Caso seja eleito reitor, António Fidalgo deseja ter «solidariedade» por parte de João Queiroz e Santos Silva. O candidato espera ver o actual reitor entrar na corrida. Salienta a importância de se apostar na formação superior para combater a crise e a necessidade do Governo aumentar as transferências.
P – Porque decidiu candidatar-se a Reitor da UBI?
R – Decidi candidatar-me porque estamos perante um novo ciclo que se abre na vida da UBI com os novos estatutos e também com todo o contexto que existe ao nível legal. Mas também um novo ciclo, pelos desafios, dificuldades e oportunidades, que os próximos quatro anos apresentam.
P – Quais as linhas programáticas do seu projecto?
R – Há objectivos a médio e longo prazo e outros a curto prazo que são medidas organizativas e meios e instrumentos de chegar aos objectivos cimeiros. Neste momento, a Universidade não tem administrador e penso que uma das tarefas imediatas do próximo reitor será escolher um novo administrador que é uma figura fundamental. Uma das minhas convicções é de que o reitor não pode fazer tudo. Tem de trabalhar em equipa e de delegar muita coisa. Tem de se dedicar às linhas estratégicas e a um papel de coordenação de toda uma equipa. Portanto, a questão da escolha do próximo administrador é extremamente importante e é uma tarefa urgente. O segundo aspecto é a aplicação dos estatutos que para entrarem em vigor têm de ter o seu regulamento. Só podemos passar à eleição das faculdades e dos novos directores de departamento com os novos regulamentos.
P – Na mensagem onde anuncia a sua candidatura, afirma que «se torna imperioso alcançar um novo patamar de qualidade académica, pedagógica e científica». Como pensa alcançar este objectivo?
R – Por exemplo, há um patamar a nível académico que é o de incrementar a investigação científica. Os novos estatutos criam um Instituto Coordenador de Investigação (ICI), cujo presidente é nomeado pelo reitor e este organismo tem uma dignidade estatutária ao mesmo nível das Faculdades. E enquanto nas Faculdades é o Conselho que elege o seu presidente, no ICI o presidente é nomeado pelo reitor e, pela primeira vez, passa a haver um órgão de coordenação do Centro de Investigação da UBI. O Centro de Investigação e os seus Conselhos Científicos só tinham de responder à FCT. Não respondiam no contexto da Universidade. Agora passa a haver um trabalho em conjunto e isto é extremamente positivo porque pode suscitar uma cooperação entre os diversos centros e nascer investigação cruzada. Aí o reitor tem logo um papel muito importante e isso é um instrumento crucial numa política de incentivo e de reorganização de toda a investigação dentro da universidade. Quanto ao nível pedagógico, penso que neste momento os órgãos pedagógicos vão ficar ao nível das faculdades. Já existiam mas havia um Conselho pedagógico ao nível de toda a universidade. Neste momento, isso deixa de existir e as questões pedagógicas têm de ser resolvidas ao nível das faculdades. Ainda nas questões pedagógicas, há um aspecto que é muito importante. A UBI é a universidade no país que tem mais estudantes bolseiros que atingem os 38 por cento. É quase quatro em cada 10 estudantes, o que significa que os nossos alunos provêm de famílias que serão mais atingidas pela actual crise económica. Receio que estes alunos sejam directamente afectados por esta crise porque há pais que vão para o desemprego.
P – Como avalia o trabalho de Santos Silva?
R – Como muito positivo e não é admiração nenhuma porque já o escrevi várias vezes. Ao longo destes anos, sempre considerei que o trabalho de Santos Silva à frente da UBI foi muito positivo.
P – Já sabe que, pelo menos, vai ter como opositor João Queiroz. Teme uma eventual recandidatura de Santos Silva?
R – Não pelo contrário. A candidatura do professor João Queiroz não suscita qualquer surpresa. É uma pessoa que já demonstrou que tem um forte apoio dentro da Universidade e portanto é uma candidatura que se esperava. Quanto à candidatura do professor Santos Silva acho que é muito positiva por duas razões. Neste momento, estamos num debate de ideias, programas, propostas e da situação da Universidade e penso que o contributo do professor Santos Silva enriqueceria o processo porque ninguém conhece melhor a UBI do que ele. O facto de estar à frente da Universidade há 12 anos dá-lhe um conhecimento que é impossível a outra pessoa ter. Por outro lado, a candidatura do actual reitor permitiria um maior leque de opções ao Conselho Geral e nesse sentido saudaria uma candidatura do professor Santos Silva.
«Seria de todo o interesse haver um
candidato a reitor vindo de fora»
candidato a reitor vindo de fora»
P – Falando dos novos Estatutos, prevê-se que os vice-reitores possam ser figuras externas à instituição. Acredita que a UBI pode beneficiar com isso?
R – A UBI pode beneficiar com essa medida. Até pode vir um reitor de fora. Acho sinceramente que seria de todo o interesse haver um candidato a reitor vindo de fora, eventualmente até do estrangeiro, porventura de Espanha. Por outro lado, se tivéssemos só uma candidatura isso significaria que não havia vitalidade dentro da universidade. Isto é, quanto mais candidaturas houver melhor, significa que maior vitalidade há dentro da Universidade. Quanto aos vice-reitores é uma hipótese que a lei permite e acho que nenhum candidato a reitor pode excluir à partida.
P – Nesse caso, já tem ideia de quem poderá acompanhá-lo?
R- Neste momento, uma pessoa pode ir pensando em nomes. Mas vamos imaginar… Se ganhar o professor Santos Silva, o professor João Queiroz ou outro candidato eu não vou negar o meu apoio a esse candidato obviamente. Espero também que no caso de ser eu ganhar que nenhum desses candidatos negue a solidariedade que é devida ao reitor e ao bem da instituição.
P – A implementação do RJIES permite antever um período conturbado nas instituições de ensino superior?
R – Não é a questão do RJIES, mas sim da situação financeira. No ano passado, a UBI, segundo informações do actual reitor, transitou de 2008 para 2009 com um saldo negativo de 1,6 milhões de euros e neste momento o orçamento tem uma falha de 5 milhões de euros, mas isto não é apenas uma particularidade da UBI. É uma generalidade de todas as universidades portuguesas. Qualquer candidato tem de meter mão a este problema porque temos de o resolver. As universidades têm visto o seu orçamento cair em termos reais devido aos 11 por cento que se descontam para a Segurança Social e também por causa do aumento dos salários que são ditados por política governamental. Este aumento salarial e essas novas exigências não são acompanhadas por transferências do Orçamento de Estado e aí é que está a questão. O Governo está a investir milhares de milhões de euros em sectores importantes da actividade económica nacional, nomeadamente na banca. Penso que uma das maneiras mais efectivas de combater a crise é apostar em instituições saudáveis que são extremamente importantes para a vida do país e que são condição para a qualificação da população nacional. Sem uma melhor qualificação da população não chegamos a resolver a crise e o défice de Portugal relativamente aos nossos parceiros europeus. Temos de apostar na formação superior das pessoas e no apoio às instituições de Ensino Superior que vivem, segundo o actual presidente do CRUP, num autêntico sufoco financeiro. O que o Governo tem de fazer é dar os meios financeiros a um bom funcionamento das Universidades e com isso estará a combater de uma forma muito directa e assertiva a crise que afecta a sociedade portuguesa.
P – No caso específico da UBI, tem sido significativamente penalizada pelo investimento do Estado?
R- A UBI tem sido penalizada e é a universidade que recebe menos por aluno. Recebe à volta de quatro mil euros por aluno, enquanto que outras como a do Porto, por exemplo, recebem cinco mil euros. Em vez de haver uma discriminação positiva para o Interior, é uma descriminação pura e dura.
P – Porque é que isso acontece em sua opinião?
R – Porque durante muito tempo os orçamentos não foram revistos. Temos uma lei de financiamento do ensino Superior em que as propinas foram introduzidas para possibilitarem uma melhor qualidade do ensino. Contudo, essas propinas agora são utilizadas como receitas próprias para o orçamento normal das universidades e quem não tem cumprido a legislação é o próprio Governo.
«É importante que continuemos a crescer,
paulatinamente e devagar como temos feito»
paulatinamente e devagar como temos feito»
P – Há um ano, Santos Silva disse que estava concluído um ciclo de construção de infraestruturas físicas. Partilha desta ideia ou acredita que será necessário mais algum investimento nesta área?
R – Partilho dessa ideia. Neste momento, a UBI tem capacidade para ter 9 mil alunos e penso que o alargamento de espaços não é um dos objectivos fundamentais.
P – E atrair mais alunos é uma prioridade?
R – Isso continua a ser, mas é importante que continuemos a crescer, paulatinamente e devagar como temos feito.
P- Deverão ser criadas novas áreas de doutoramento?
R – As que já temos são suficientes. Neste momento, o que é cada vez mais importante é ligar as pós-graduções, nomeadamente os doutoramentos, às Unidades de Investigação e o que temos de fazer é promover decididamente os segundo e o terceiro ciclos de estudo.
P – Recentemente, a Fundação para a Ciência e Tecnologia não classificou nenhuma das unidades de investigação da UBI com a nota máxima. Duas delas nem vão receber financiamento nos próximos anos devido aos maus resultados obtidos. O que tem falhado?
R – Desde logo pela juventude da universidade. Também é uma questão de se olhar em perspectiva, mas das universidades do interior, a UBI foi a mais bem classificada com quatro unidades de investigação com a classificação de "muito bom", duas delas do Departamento de Comunicação e Artes, ao passo que Évora e Trás-os-Montes só têm três e duas.
P – Que balanço faz do trabalho da Faculdade de Artes e Letras que preside há vários anos?
R – As avaliações nacionais e internacionais que temos tido mostram que tanto a parte científica como a pedagógica, duas áreas em que tenho sido directamente responsável, têm tido muito sucesso.
Perfil
António Fidalgo está prestes a completar 53 anos e é professor catedrático, sendo natural da Aldeia de João Pires, concelho de Penamacor. Em 1975 iniciou o curso de Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Em finais de 1979, inscreveu-se na Universidade de Würzburg para terminar os estudos. Posteriormente, obteve os graus de "Magister Artium" e Doutor na Alemanha, já com bolsas de estudo do Instituto para Alunos Dotados da Fundação Adenauer. Regressou a Portugal em 1984 para dar aulas na Universidade Católica. Chegou à UBI em 1991, onde começou por leccionar no Departamento de Sociologia e Comunicação. Em 1995, assumiu as funções de vice-reitor de Passos Morgado, num cargo em que se manteve entre 1996 e 1998 no primeiro mandato de Santos Silva. Gozou uma licença sabática em 1998 na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, como "Visiting Scholar". Em Maio de 2000 obteve uma cátedra em Ciências da Comunicação. É director da Faculdade de Artes e Letras da UBI desde a sua criação em 2000, sendo ainda fundador e membro da Direcção da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação. Entre outros cargos, em 2005, presidiu à Comissão de Avaliação Externa dos Cursos Universitários de Comunicação e Tecnologias da Comunicação, no âmbito do Conselho Nacional de Avaliação do Ensino Superior.
O Interior
6 comentários:
Concordo com o Professor António Fidalgo. É claro que o Santos Silva não tem capacidade para líderar a UBI num novo ciclo de em que se exige muita qualidade no ensino superior. Enquanto o Professor António Fidalgo sabe o que é qualidade de investigação e de ensino, o santos silva nunca soube o que significa qualidade e estratégia. Limita-se a gerir a UBI com uma lamentável perspectiva de curto prazo. Força Professor António Fidalgo. Mostre ao santos silva o que é uma Universidade do século XXI.
Também não é bem assim: Santos Silva estava era mal rodeado. Não há "salvadores da pátria": ou se tem uma boa equipa e se delega ou então os projectos estão condenados à partida.
Realmente
O Santos Silva sempre esteve mal rodeado, alguém que o ajuda-se.
Carralhitos, Raposos, e Queirozes não ajudam ninguém. Só F.D.M, mas por trás alguns até pela frente.
Caro António Tomé:
E agora o que vai fazer? Votar Fidalgo ou Santos Silva???
Faz lembrar aquela musica do Marco Paulo: "...eu tenho dois amores que em nada são iguais..." Aí, aí, Tomé a vida esta difícil, está, está...
Por acaso até acho que os vices nem eram tão maus como isso. Há outros oportunistas que, não se sabe bem pk, conseguiam sempre coisas k nao deveriam consugir. Ai é k SS errou. Nao foi nos vices. Estes vices até tem algumas publicações ISI.
Tanta ignorância...
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