A comparação é absurda. Contrariamente à heterossexualidade, o racismo nunca foi um elemento constitutivo do casamento. Justamente por isso, o casamento interracial foi proibido em sociedades racistas, enquanto que a heterossexualidade do casamento se baseia na definição vigente da instituição e não na proibição do casamento homossexual. Mas está certo: tudo o que puder intimidar quem defende pontos de vista opostos serve a agenda política radical. Tenho dúvidas é que sirva também os interesses dos homossexuais, quer estes queiram casar-se ou não.
Tradição e casamento
Podemos dizer que assistimos a um movimento onde uma parte da população não se revê nas tradição actual. Existe, pois, uma falta de reconhecimento, que só pode ser restabelecido reformulando criativamente a tradição.
Disse-o o João Galamba e está muito bem dito. Eu acrescentaria apenas que a reformulação criativa da tradição tem de ser inclusiva, isto é, deve contar com os que já não se revêm nela mas também com os que se vão revendo nela, e ainda com os que acham que a tradição já não é o que era. De outra forma a tradição não será reformulada, mas sim quebrada e repartida em vários sucedâneos.
Crítica radical vs. evolução do casamento
O Jorge Sousa teve a amabilidade de se interessar pelo meu post anterior, o que agradeço. Creio, no entanto, que não interpretou correctamente a minha crítica ao frame anti-discriminatório neste debate. Eu não disse que o casamento entre pessoas do mesmo sexo tornaria a instituição casamento irreconhecível, mas sim que “qualquer instituição que seja minimamente reconhecível como um casamento tem de conter elementos que discriminam quem objectivamente não cumpre as condições determinadas”. Quer isto dizer que o que tornaria o casamento irreconhecível seria, não uma qualquer alteração concreta dos seus elementos constitutivos, mas o facto de se negar a possibilidade de nele haver quaisquer elementos discriminantes. Aliás, vou mais longe: isso não apenas tornaria o casamento irreconhecível, como impossível.
NOTA:
- Doctor Spin, estou confuso. Os meus assessores falam-me de agenda setting e de issue framing, mas o meu inglês técnico não dá para tanto. Pode-me explicar do que se trata?
(José P. Sousa, Lisboa)
- Caro leitor, agenda setting e issue framing são técnicas de controle do debate público, que permitem, quando bem aplicadas, pré-determinar o seu desenrolar segundo os nossos desejos. Mas o melhor é dar-lhe exemplos de aplicação.
Agenda Setting:
Crise? Que crise? O que interessa agora é a eutanásia e o casamento gay.
Issue Framing:
O desemprego a 7,8% não é nada a marca de uma governação falhada: até ficou abaixo do esperado, e isso é muito animador.
Disponha sempre,
Doctor Spin.
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