sexta-feira, julho 31, 2009

«Francisco Louçã, Fim da telenovela»

"É agora tempo de recapitular a novela do convite do PS a Joana Amaral Dias. E de encerrar o assunto.Na 6ªf passada, a Joana telefonou-me a comunicar que tinha sido convidada pelo PS e que tinha recusado. Nessa tarde, a TVI soube por ela desses convites para a lista de Coimbra do PS e para cargos em funções de Estado e deu essa notícia no Jornal Nacional.

Esperei pelo dia seguinte para comentar o assunto, depois da própria ter confirmado o convite ao Público e RTP. O PS poderia ter desmentido ou comentado. Não o fez. Quando há conversas entre duas pessoas, convém ouvir as duas partes. Mas o silêncio é confirmação.

Como o silêncio se manteve perante uma acusação grave, comentei o assunto no sábado, no Barreiro. E dei conta desta iniciativa do PS que pretendia obter um apoio partidário com a promessa de cargos públicos. Critiquei o PS porque esta forma de actuação é contrária ao princípio republicano de separação entre os partidos e o Estado.

A partir desse dia, o PS e o governo lançaram-se furiosamente ao ataque. Sócrates falou duas vezes sobre o assunto, desmentindo categoricamente o convite (no sábado e no domingo). Vieira da Silva chamou-me “mentiroso” no domingo. O porta-voz do PS fez duas conferências de imprensa para me insultar e para me exigir um pedido de desculpas.


Nenhum desses insultos me afecta. E o convite a uma militante do BE para uma lista do PS é somente um pequeno episódio, pouco importante, que se resolve com a consciência de cada um. Nada disso merece uma notícia nem um debate.

O que merece e exige debate é um valor essencial: o da independência das funções públicas em relação aos interesses partidários. E por isso o esclarecimento do que se passou é relevante.

Uma investigação jornalística da Visão acabou hoje com as dúvidas. A Visão demonstrou que foi um membro do governo, o secretário de Estado Paulo Campos, quem fez os convites. Segundo ele próprio, tinha “carta branca” de Sócrates. Medeiros Ferreira, do PS, confirmou o convite. Um membro muito destacado do PS confirmou a Rui Tavares o convite. E outras fontes do PS confirmaram o facto à Visão.



Depois da divulgação do caso, Paulo Campos, que estava a constituir a lista do PS em Coimbra, ficou fora da candidatura.

O PS mentiu.
O próprio Paulo Campos recusou responder à Visão durante dois dias sobre este assunto. Recusou responder ao telejornal da TVI, que ontem divulgou a notícia. Preferiu responder somente ao Público, com a afirmação curiosa de que não tinha feito nenhum convite mas que os “contactos pessoais” que tinha feito não eram do conhecimento de Sócrates. Acredita quem quer.

Entretanto, o secretário de Estado falou para a TVI dizendo que as suas conversas tinham sido pessoais mas recusando-se terminantemente a confirmar ou a negar que essas conversas pessoais tenham incluído convites políticos. A atrapalhação é evidente.

Assim, a telenovela chega ao fim. Existiu mesmo o convite. Foi um membro do Governo quem o fez. E cada um pode imaginar se o Primeiro-ministro sabia ou não dos convites que um membro do governo estava a fazer. Só há duas hipóteses. Ou José Sócrates não sabia, e isso quer dizer que não tem mão no seu Governo, o que é revelador; ou sabia e é grave por ter jogado com as palavras para fugir à verdade.

No fim de tudo, fica sempre o mesmo problema. Deve um partido usar o seu poder para prometer cargos públicos a troco de apoios? Não deve nem pode. A democracia exige valores e responsabilidade."

Sem comentários: