segunda-feira, julho 27, 2009

"O Twitter não é uma fonte credível"

Michael van Poppell é um jovem holandês que, aos 19 anos, criou um serviço no Twitter capaz de dar notícias de todo o Mundo primeiro do que as grandes agências internacionais.

Tem só 19 anos e está a incomodar, e muito, as grandes agências de informação mundiais. Chama-se Michael van Poppel, é holandês e com apenas dez colaboradores criou um serviço capaz dar notícias de todo o Mundo. Consegue muitas vezes - e muitas vezes mais do que a Reuters, France Press ou Associated Press desejavam - ser o primeiro. A BNO News, a sua pequena agência que fornece notícias através do Twitter, já se tornou fonte de referência para jornalistas em todo o planeta. Graças a um trabalho cuidadoso. É que van Poppel já se apercebeu do que muitos entusiastas do Twitter teimam em não perceber: o Twitter é uma excelente ferramenta, mas não dispensa o trabalho que todos os jornalistas devem fazer - ter a certeza de que aconteceu antes de dá-lo como certo. Tudo começou há dois anos, quando van Poppel vendeu à Reuters uma cassete vídeo com declarações de Bin Laden que descobriu (não se sabe como) e que foi emitida em todo o Mundo.

Desde que vendeu a cassete de Bin Laden, muito mudou na sua vida.
Esperava vir a ter este impacto?

Não. A BNO News começou como experiência. Após vender a cassete à Reuters, fiquei a pensar se e como iria conseguir outras notícias antes dos outros média. Os primeiros passos foram organizar a forma como trabalhamos. No início, quase tudo era feito por mim, e a maior parte do trabalho era agregar notícias de outros média. A seguir, desenvolvemos um sistema original de busca de notícias; aí conseguimos atenção, porque é muito útil ter grande variedade num só sítio. Mais tarde, começámos a conseguir notícias próprias e a lançá-las primeiro. Não esperava um impacto tão grande, mas quando vi que as grandes agências de informação também falham, percebi aí uma oportunidade a aproveitar. Seria de esperar que órgãos de comunicação com milhares de jornalistas e milhões para gastar fizessem melhor trabalho, porque às vezes demoram literalmente horas para lançar uma notícia, mesmo quando já há informações oficiais. Apesar de usarem o argumento de que estão a confirmar os factos antes de darem a notícia, muitas vezes não é o caso. Por exemplo, há pouco tempo, a agência Associated Press informou sobre uma tempestade ao largo do México três horas depois de o instituto de metereologia mexicano já ter dado essa informação. E este é só um caso. As grandes empresas de média têm grandes problemas em termos de organização de recolha de informações, o que provoca atrasos.

Planeia tornar a BNO News numa grande agência. Disse que o "Twitter é excelente para enviar alertas, mas não garante um futuro realista a uma empresa com grandes recursos, a funcionar 24 horas por dia". Como vai fazê-lo?

O Twitter não tem futuro para nós pelos seus limites. Encontrámos um modo de organizar a informação que nos chega, mas também fazemos chamadas para obter mais. Apesar de já termos um grande sistema de recolha de informações e notícias, às vezes ainda estamos dependentes dos outros média para lançar a primeira notícia. A noção de que não somos capazes de escrever notícias mais aprofundadas é errada: temos capacidade, em termos de recolha de informações, mas não temos é pessoal para escrevê-las. Agora estamos baseados no Twitter mas, quando tivermos os recursos, de certeza produziremos notícias com muito mais detalhe. O que vêem no Twitter é só uma fracção do que fazemos...

Muitos dos seus seguidores são jornalistas e editores de grandes média, mas há dúvidas sobre a vossa credibilidade. Acha que as grandes agências estão à espera que cometa um erro?

Não sei o que pensam os outros de nós. Ouço muitos comentários positivos de outros jornalistas que seguem a BNO News no Twitter. A CNN disse que soube de um acidente aéreo em Amsterdão pelo Twitter da BNO. E há outros exemplos. Durante o ataque terrorista em Bombaim [em Novembro de 2008] e quando aquele avião mareou em Nova Iorque, em Janeiro, alguns jornais usaram informações nossas e recomendaram aos leitores que nos seguissem para actualizações. Mas há jornalistas mais cépticos. Já errámos nos detalhes e desde que corrigimos alguns aspectos o nosso trabalho tem sido mais fiável. Mas nós trabalhamos em "breaking news" e damos a notícia muito antes dos outros média. E depois, todos os média cometem erros todos os dias. Mas não sei se há quem esteja à espera que falhemos, mas há de certeza alguns que querem que isso aconteça - especialmente nas maiores empresas de comunicação.

Quantas pessoas trabalham consigo e como lhes paga??

Os nossos repórteres não estão, por agora, a ser pagos, apesar de passarem muito tempo a trabalhar. São americanos, irlandeses, mexicanos e eu sou holandês. Não estamos, neste momento, a ganhar dinheiro. Na verdade, estamos a perdê-lo. Trabalhamos com 10 pessoas.

O Twitter é usado muitas vezes para informações não confirmadas,
mas quese espalham em segundos pelo Mundo inteiro. Não é perigoso?

É. Não consideramos o Twitter fonte credível de informação e nunca o usamos como tal. Qualquer um pode dar algo como um facto. Durante as eleições no Irão, o Twitter mostrou-se pouco preciso, espalhando informações que depois se provaram falsas. Na nossa cobertura das eleições no Irão, muitos atacaram-nos por não publicar esses rumores, dizendo que não estávamos a dar o lado dos protestos contra o regime. Só que estes "tweets" não eram credíveis e, se dessemos seguimento a todos os rumores do Twitter, daríamos muitas notícias falsas todos os dias. Tínhamos fontes credíveis no Irão, que forneceram dados mais precisos.

Mas não usam o Twitter de todo, como fonte de informação?

Quando vemos potencial notícioso numa informação que corre no Twitter, confirmamos sempre com fontes oficiais antes de lançá-la. Há outros média que usaram tweets não confirmados: a CNN, por exemplo, usou directamente posts do Twitter e considerou-os factos. Isso é extremamente negativo. A cobertura da CNN das eleições iranianas foi muito enganosa e demasiado focada no uso do Twitter. No geral, o Twitter pode ser boa fonte de notícias, mas só seguindo as pessoas certas.

Qual é a vossa estratégia para o futuro?

Estamos a preparar um serviço de notícias para as empresas de média. Será direccionado para o mercado local norte- -americano porque é aí que está a maioria das nossas fontes e é um excelente mercado para construir a nossa marca. Encontramos o segredo para dar notícias mais rápido do que outros média, mesmo as empresas locais, e muitos jornalistas já estão familiarizados com a BNO News. Além disso, muitas empresas estão a cortar em serviços e pessoal por causa da crise. As grandes agências de informação cobram centenas de milhares de euros e cobram serviços que as empresas não precisam. A BNO News estará direccionada para oferecer serviços a um preço muito mais baixo e melhorar onde as empresas realmente precisam. Com o tempo, a confiança em nós será cada vez maior.

Para os média, a gratituidade da Internet é um
obstáculo ou uma oportunidade?

A Internet oferece muitas novas oportunidades ao jornalismo. As televisões não conseguem interromper a programação em segundos; com a Internet, isso não é problemático. Além disso, o espectador de TV é forçado a ver o que aparecer e, na Net, pode-se escolher ler o que queremos e quando o quisermos.

Como vê o jornalismo do futuro?

No futuro, as notícias estarão disponíveis ainda mais depressa. Vai haver sempre procura de jornais, apesar de ela estar a diminuir. Pessoalmente, gosto de ler o jornal quando estou a viajar, por exemplo, e penso que muitas pessoas também gostam. Uma visão do futuro de que gosto muito é uma cena do filme de ficção científica "Relatório Minoritário", onde aparece um jornal que muda em tempo real. É uma edição do USA Today [jornal dos EUA] a ser actualizada com uma notícia de última hora. A questão é saber se algum dia se tornará realidade. Li há alguns anos que algo similar poderia ser possível dentro de 20 anos. Por isso, quem sabe? Se se tornar realidade, certamente salvará a indústria dos jornais.

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