Joel Neto escreveu no Diário de Notícias, na sua “Crónica de TV”, que “enquanto ninguém regular o YouTube, crimes como este continuarão a ser praticados todos os dias” (ver João Malheiro e as loiras)
Eu concordo quando Joel Neto escreve: “Os palavrões não interessam. O marialvismo ainda menos. Onde quer que haja dois homens sozinhos e duas loiras desfilando em frente, as possibilidades de haver marialvismo e palavrões são grandes (em todas as actividades, em todas as classes sociais, em todas as idades)“.
Admito que os palavrões e o marialvismo incomodem tantas e tantos, mas concordo: não é coisa a que ligar por aí além e eu não o faço.
Mas lamento a frase seguinte: “O que esta história nos mostra, principalmente, é que o YouTube precisa de regulação. E que, enquanto ninguém o regular, crimes como este (o da exposição de uma conversa privada, entre outros) continuarão a ser praticados todos os dias um pouco por todo o mundo.”
Não, a história não mostra tal coisa, nem mesmo secundariamente.
Em primeiro lugar, o YouTube não precisa de regulação. Já a tem. Bastava uma palavra da SIC e o video era retirado.
Em segundo lugar, a regulação do Youtube não evitaria este “crime” (meto aspas nisso, evidente). A única forma de impedir que as pessoas partilhem videos deste género no YouTube é impedir que as pessoas partilhem videos no YouTube.
Em terceiro lugar, o que Joel Neto resolve é colocar o ónus na pistola e branquear quem a disparou. (Regular as pistolas impediu os assassinatos, Joel?)
O que a história mostra é que persiste na classe jornalística portuguesa um elevado grau de desconhecimento sobre a natureza, as práticas e o dia a dia das redes socias.
Podemos enfeitar as crónicas do Joel Neto, do Miguel Sousa Tavares e de tantos outros com um botão de partilha por baixo e uma caixa de comentários, a modernidade fake e pirosa.
Mas não podemos meter conhecimento do ecosistema reticular naquelas cabeças. Preferem manter os preconceitos da Idade Média dos anos 90: ladrões, vigaristas, prostitutas, criminosos, psicopatas e doentes vagueiam pelas noites escuras da Internet em busca de sangue, engates, pilhagens. E adoram efabular-se como as vítimas preferenciais de tal súcia.
As árvores morrem de pé e assim.
Nota: fui colega do Jorge Baptista e custa-me, naturalmente, vê-lo passar por este triste episódio. Shit happens. Vejo em José Augusto Marques um bom profissional e não tenho uma ideia sobre João Malheiro, à parte recordar o seu vozeirão.
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