Vasco Pulido Valente sobre Marcello Caetano:
Disse em 1973 a António Alçada Baptista que não tinha uma «concepção pedagógica do governo». Tinha: mas queria dizer que, para ele, a função da autoridade não era «impor às pessoas o que achava que elas deviam fazer». Pouco a pouco, porém, abandonou esta neutralidade céptica. Ele não se importaria de ser «largamente permissivo»num mundo pacífico, regido pelas regras do debate universitário, e não por gente que, a título de argumentos, «regougava» as asneiras do «velho arsenal das utopias» e do «bricabraque dos sistemas». Mas, no mundo em insurreição que lhe coubera em sorte governar, num mundo de fanáticos e de «frenéticos», em que todos aqueles que deviam o «mínimo de obediência» estavam em guerra com todos aqueles que tinham «o mínimo de autoridade», «os filhos contra os pais, as mulheres contra os homens, os alunos contra os professores, os empregados contra os patrões e os governantes contra os governados», competia-lhe não confiar nos «automatismos sociais» e manter a autoridade sem desfalecimento.
Manter a autoridade para reprimir, quando fosse necessário. Mas, fundamentalmente, para defender a «posição do centro» e dela «a cada passo fazer apelo à razão». A democracia era a morte da razão, e ele o «paladino do equilíbrio». Não se resignava (nunca se resignou) a abolir a razão, mesmo à custa da liberdade, convicto de que, limitando-a, não a matava. De que, pelo contrário, a defendia. À mercê das violências do «instinto», a liberdade, essa «flor de estufa», precisava de um poder interveniente e prescritivo para sobreviver. Ele, pelo menos, não a trairia.
Manter a autoridade para reprimir, quando fosse necessário. Mas, fundamentalmente, para defender a «posição do centro» e dela «a cada passo fazer apelo à razão». A democracia era a morte da razão, e ele o «paladino do equilíbrio». Não se resignava (nunca se resignou) a abolir a razão, mesmo à custa da liberdade, convicto de que, limitando-a, não a matava. De que, pelo contrário, a defendia. À mercê das violências do «instinto», a liberdade, essa «flor de estufa», precisava de um poder interveniente e prescritivo para sobreviver. Ele, pelo menos, não a trairia.
Portugal: Ensaios de História e de Política, págs. 226-227
1 comentário:
Agradeço a citação. Cumprimentos.
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