«Escrevo para criar um espaço habitável da minha necessidade, do que me oprime, do que é difícil e excessivo»
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Faz neste dia 1 de Março dez anos que faleceu o homem que escrevia «para tornar visível o mistério das coisas». Vergílio Ferreira nasceu em Melo, Gouveia, a 28 de Janeiro de 1926 e, depois de viver longos anos em Lisboa, regressava ao seu chão, em 1996. Sobre Lisboa disse, em Autobiografia, ser «um sítio onde se está, não um lugar onde se vive. Mesmo que se lá viva há 18 anos como eu», explicando: «quando for para Lisboa, levo a província comigo e instalo-me nela. E assim se fez. Os livros que aqui escrevi são afinal da província donde sou.». Apaixonado pela Serra e pela planície, disse o escritor sobre os sítios donde é:
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«Sou do Alentejo como da serra onde nasci, a mesma voz de uma e outra ressoa em mim a espaço, a angústia e solidão. E a minha biografia deve ter findado aqui.».
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Dos locais onde esteve ou, como diz, «dos centros de irradiação» da sua actividade, Évora surge como verdadeira aparição, irrompendo como espaço da acção central do seu romance com o mesmo nome. Sobre Évora, a cidade branca, da cor da neve da sua serra, escreve: «Apenas Évora transbordou de emoção para a lembrança. E como a Coimbra, é de novo a música, agora o coral dos camponeses, que a levanta ao espaço da minha comoção. Ouço-o ainda agora, a esse coro de amargura, raiado à infinidade da planície. Évora do silêncio com sinos nas manhãs de domingo, estradas abandonadas à vertigem da distância, ó cidade irreal, cidade única, memória perdida de mim.». (...)
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