terça-feira, setembro 18, 2007

Diário de Notícias - IMAGO 2007







Música electrónica de gosto ecléctico



ISILDA SANCHES

Kalabrese é o nome usado pelo suíço Sascha Winkler enquanto DJ e produtor de uma música de dança de espírito aberto, ecléctica nas influências e no resultado. Além disso, Sascha é também um conhecido promotor de eventos da noite de Zurique que, antes de se entregar aos prazeres das pistas, foi baterista e teve uma banda de hip hop, o que explicará o seu apurado entendimento do ritmo e suas virtudes e também o facto de Rumpelzirkus ser um disco particularmente revigorante na música electrónica actual.

Na verdade, Kalabrese segue uma tradição de produtores meticulosos como Mathew Herbert, construindo peças de som a partir de uma conjugação quase pericial de pormenores que levam a música em várias direcções. O grande argumento de Rumplezirkus é precisamente o facto de ser um disco arejado, sem preconceitos nem maneirismos, que não se esgota em nenhuma fórmula nem se restringe a nenhum género. Podemos metê-lo no pacote do techno minimal, mas também podemos optar pelo do house, ou fazer como o próprio autor na sua página do MySpace quando escolhe o termo folk como hipótese de definição. Independentemente de qualquer família dominante, Rumpelzirkus usa quase todas as possibilidades de interacção entre diferentes linguagens musicais, tem elementos jazzísticos, ecos de dub, blues, exercícios pop, guitarrinhas acústicas e batidas incisivas e até o que se poderia chamar "esoterismo electrónico", por cultivar sem vergonha algum experimentalismo mais ousado.

Este é o tipo de disco capaz de evocar muita música já ouvida, do micro house de gente como Villalobos, ao downtempo narcotizado de uns Kruder & Dorfmeister ou até mesmo o melhor do jazzhouse de alguém como St Germain e ainda surpreender--nos genuinamente com coisas sem paralelo definido. Parte ciência de laboratório, parte energia orgânica facultada pelo recurso a músicos e instrumentos reais, o álbum de estreia de Kalabrese é convictamente ecléctico e de audição fluida, que funciona nas pistas mas terá mais eficácia fora delas e acentua, mais uma vez, que a música electrónica e de dança também pode ter canções e ser pop.
Diário de Noticias|

Sem comentários: