R'etratos à sexta...com JM (19)

Depois dos escrutínios de Domingo impõe-se hoje uma análise ao resultado. Carlos Pinto voltou a ganhar, sim. Fruto de inúmeros factores: em primeiro a ausência de alternativa forte – Vítor Pereira não é um nome forte e não agiu bem nestes quatro anos, Jorge Fael repetiu a candidatura e algumas ideias, Nuno Reis não tem experiência, nome nem alternativa e Serra dos Reis não é um rosto forte nem tem marca no concelho. Não que ache que politicamente os candidatos eram maus (fiz uma pequena abordagem sobre isso nestas ultimas semanas), digo sim que parte da vitória de Carlos Pinto se deve à falta de alternativa com nome e passado no concelho.

Mas este não foi o único factor... De facto houveram duas campanhas paralelas, a eleitoral e a inaugurativa, que se coligaram de forma brilhante. Por outro lado foi uma campanha desigual em que o PSD teve meios ao seu dispor que os outros candidatos não tiveram. Além de que a imagem que Carlos Pinto habilmente vai passando na cidade é a de um autarca preocupado, generoso e justo conseguindo mesmo que as pessoas nem dêem atenção aos grandes problemas da Covilhã e às acções desastrosas que se têm praticado.

Saberão as pessoas que pagamos a sexta água mais cara do país fruto da venda de 49% da água à Somague? Que a Câmara suga ilegalmente ribeiras do concelho? Que a Câmara está altamente endividada? Que continua a existir pobreza e fome no concelho? Que a autarquia promove o trabalho precário em Cal Centers? Que as colectividades locais não têm dinheiro para o seu importantíssimo trabalho sociocultural?

Saberão as pessoas que as obras de fachada não matam a fome a ninguém? As pessoas não sabem, e na verdade convém-lhes que não saibam...

Mas voltando aos resultados e deixando por agora os factores de lado o PSD para a Câmara Municipal venceu mas perdeu 1095 votos, o PS aumentou 525 votos, a CDU perdeu 185, o BE ganhou 150 votos, e o CDS 356.

Para a Assembleia, o PSD perdeu 711 votos, o PS ganhou 453, a CDU perde 172 votos, o BE aumentou 14 votos e o CDS aumentou 85.

Apesar de o PSD ter ganho houve um aumento de eleitorado nos restantes partidos e isso pouco ou muito parece-me bom, são mais umas largas dezenas de pessoas a perceber que a Covilhã merece melhor.

Pelas freguesias não houve grandes surpresas. Há apenas alguns casos interessantes. Houve uma aposta fortíssima do PSD na Conceição para tirar Carlos Martins da freguesia, apostaram no professor Eduardo Cavaco mas nem isso lhes valeu, o PSD perdeu por 854 votos obtendo Carlos Martins 54,01 dos votos. Em Orjais houve uma grande surpresa. O PSD conseguiu seduzir muitas listas independentes para serem apoiados pelo partido – dizendo depois que fizeram “o pleno”, enfim... –, em Orjais a lista de independentes, Orjais quer mais, venceu a lista do PSD com 68, 45 por cento. Interessante…

Havia apostas fortes do PS também noutras freguesia em que o PSD levou a melhor note-se por exemplo em S. Martinho: uma campanha muito forte do PS, mas apesar disso, Vítor Tomas Ferreira vence... por 29 votos, mas vence. Apesar disso as deliberações da junta vão ser extremamente difíceis e ainda estamos para avaliar o peso estratégico do eleito da CDU, Marco Gabriel. Inclusive em Cortes houve uma aposta forte do PS, mas ainda assim houve uma vitória do PSD por 51,34. Também na Erada o PSD não conseguiu tirar a junta apesar dos esforços.

O caso que me parece mais interessante foi a Boidobra. Uma aposta brutal para o PSD tirar a junta à CDU. Carlos Pinto subiu os prédios da Alâmpada apresentando o candidato do PSD, colocou cartazes, realizou cerimónias “contratuais”, fez muitas distribuições: nada lhes valeu! A Boidobra votou José Pinto e continuará o rumo em que tem estado.

No panorama geo político da Covilhã não se levantam grandes alterações. Vai tudo continuar mais ou menos na mesma, mais deputado menos deputado.

Ainda assim esta vitória não é inocente. Costuma-se usar um pensamento que no caso da Covilhã assenta plenamente: as pessoas são livres, mas desconhecem os mecanismos que as determinam a escolher determinada opção. Os mecanismos na Covilhã são simples: culto da personalidade, “mediatismo inaugurativo”, propaganda atrás de propaganda, desrespeito pelas oposições e pelas ideias diferentes que são apresentadas, cultura de medo e digamos algum “analfabetismo político” de uma parte considerável da população. Quando distribuía jornais por exemplo as pessoas perguntavam-me frequentemente se votar nestes ou no senhor Carlos Pinto era o mesmo… E se era para a mesma coisa.

Apesar disso avizinham-se quatro anos com mais do mesmo. Com as mesmas tácticas, estratégias e opções: nada de novo! Mas nem por isso estes quatro anos vão perder a importância… Daqui a quatro anos o reinado “pintista” vai ter um fim, e ai sim vamos ver quem se chega a frente, que alternativas concretas vão surgir… Ai sim, vamos deixar de ver folclore político, e vamos assistir a um verdadeiro debate político!

Saudações.

João Nuno Mineiro