Rede de teatros é claramente uma ficção Foto Gonçalo Manuel MartinsFoto Gonçalo Manuel MartinsFoto Gonçalo Manuel MartinsFoto Gonçalo Manuel Martins
P – A anunciada cativação de verbas, medida em relação à qual o Ministério da Cultura acabou por recuar, diz muito da insegurança em que trabalha a comunidade artística em Portugal. É assim que entende essa intenção?
R – Mesmo que tivesse sido concretizada, essa medida não atingiria o Teatro Municipal da Guarda (TMG), uma vez que se trata de uma estrutura que não é financiada pelo Ministério da Cultura. Mas, visando os criadores, indirectamente, visaria a nossa actividade. Agora, atingindo, visando os criadores, mesmo que seja apenas ao nível da insegurança criada para quem trabalha na área artística, indirectamente prejudica o TMG, como todas as restantes estruturas, uma vez que nós precisamos dos criadores e precisamos que eles tenham condições para produzirem espectáculos de grande qualidade. Em alguns casos, os criadores artísticos em Portugal apenas sobrevivem. Por outro lado, nas declarações da senhora ministra, há também algo que ainda precisa ser esclarecido: o que ficou dito foi que parte do dinheiro dirigido ao apoio à criação seria transferido para os teatros municipais, arranjando-se assim uma solução para apoiar a sua programação.
R – Eu preferia que isto não acontecesse assim, que não fosse necessário tirar algum dinheiro aos criadores para apoiar os teatros municipais. Julgo que, aliás, não será possível fazer isso dessa forma.
P – Esta não seria uma forma de trazer ainda mais instabilidade, mais ruído, ao tecido cultural português?
R – Eu nunca concordaria com uma solução dessa natureza. Nós estamos numa fase de grande confusão ao nível de uma suposta política cultural. Há muito ruído, há muita confusão e continua a ser necessário clarificar. Embora, neste momento, com a nomeação de João Aidos para a Direcção-Geral das Artes, tenham sido [por ele próprio] assumidas áreas fundamentais, nomea-damente no que respeita à concretização da tão falada “rede” de teatros e cineteatros.
P – O facto é que o diálogo parece, uma vez mais, não ser o ponto forte dos responsáveis pela área cultural?
R – É o que parece. Mas eu também já não acredito neste tipo de discurso. Há anos que os directores artísticos dos teatros andam a pedir a atenção do Ministério da Cultura, que não os ouve. Fala-se sempre de uma rede nacional de teatros e cineteatros.
R – É claramente uma ficção. Há equipamentos físicos. Não existe é nenhuma rede estruturante do país, cujos teatros ajam em conjunto, que os relacione, em que se estabeleçam cumplicidades. Isso não existe, a não ser excepcionalmente, em relações de proximidade e parcerias de algumas estruturas. Mas, ao nível do país, não existe. Ao nível de sabermos claramente qual é a rede estruturante de teatro do país, qual é o seu papel, que serviço público deve prestar, qual o caderno de encargos que é necessário cumprir para que o Estado apoie esses teatros. Nada disto existe. E era necessário, imperioso, que passasse a existir com clareza. Mas o Ministério da Cultura teria de apoiar fortemente a criação desta rede. Não esperamos, nem desejamos, que seja tutelada pelo Ministério da Cultura, mas o ministério teria um papel preponderante, motivador. E teria também o papel de viabilizar economicamente esta ideia de rede.
R – É essa a ideia de rede. Com os espectáculos, nomeadamente aqueles directamente apoiados pelo Ministério da Cultura, a fazerem uma circulação nacional. Mas o que há agora é apenas um conjunto de equipamentos, uns melhores que outros, sem regras. Não há qualquer ordenamento ao nível de território na área da cultura, cada director artístico trabalha isoladamente, numa espécie de campeonato para ver qual é o melhor teatro. No entanto, como lhe digo, há excepções.
R – Nós próprios, no TMG, fazemos parte dessas excepções, porque colaboramos regularmente com outros teatros. Mas não há uma rede nacional e é fundamental que haja.
P – Essa é uma ideia absolutamente estruturante, não apenas na área teatral, mas ao nível da política cultural em geral. Porque os teatros municipais existem para promover numa comunidade…
R – O acesso à cultura. Há companhias de teatro e dança que trabalham e, em alguns casos, são directamente apoiadas pelo Ministério da Cultura, portanto seria normal que não se limitassem a fazer um ou dois espectáculos no seu sítio de criação, mas que pudessem circular por todo o país. A senhora ministra chama-lhe mercado. Mas a verdade é que seria de todo conveniente que várias produções pudessem alargar o seu público através desta rede de teatros. Rede que não seria apenas criada para fazer circular espectáculos, mas também para promover iniciativas de formação, para reflectir e levar à prática projectos educativos, cooperações internacionais. Depois, há uma evidência: os espectáculos ficariam todos muito mais baratos.
R – Exactamente. Este é o ovo de Colombo, mas parece que ninguém o quer pôr de pé.
R – Não sei. Eu acho que já foi demonstrado em diversas circunstâncias as vantagens de uma rede deste tipo. Eu julgo que o que impede, para lá da vontade política, que agora parece existir, é a falta de dinheiro. Porque é preciso que o Estado, através do Ministério da Cultura, invista, mas exigindo a comparticipação das câmaras municipais. Porque, do ponto de vista racional, parece estar tudo explicado. O melhor era acreditar nesta rede, a integrar cerca de 20 teatros, distribuídos pelo país, para que fossem teatros de referência. Isto sem que haja da parte do ministério qualquer vontade em a tutelar artisticamente.
R – Não basta eu declarar, embora eu o faça, que o TMG é um teatro de referência. Os programadores do país estão, há algum tempo, a reflectir nas chamadas boas práticas. Boas práticas que identificamos relativamente ao TMG, que presta, claramente, um serviço público – permite o acesso a actividades culturais numa cidade do interior –, tem uma programação diversificada, sem ser comercial [porque o Estado só tem a obrigação de pagar as actividades que não se pagam a si próprias], não apenas na área dos espectáculos, mas também na promoção da leitura e, principalmente, no trabalho educativo que, para nós, que não temos esse entendimento redutor, não é apenas dirigido às crianças.
P – Deve dirigir-se a outros públicos, que não os habi-tuais de uma estrutura cultural?
R – Exactamente. Aos idosos, ao público normalmente esquecido, a públicos marginalizados, afastados das dinâmicas culturais. Mas, regressando aos factores que fazem do TMG a tal referência, não podemos esquecer que tem uma equipa técnica, tem uma equipa artística, tem uma estrutura de criação. E, sobretudo, tem uma forte relação com a comunidade.
P – E essa relação com a co-munidade é fundamental?
R – É. E isso quero destacar, porque sei que muitos teatros não têm este tipo de preocupação. Ou seja, como se a cultura tivesse, de alguma forma, um valor intrínseco e toda a gente de imediato reconhecesse isso. E não é assim. O programador põe em causa diariamente as suas escolhas e tem por obrigação chegar a outros públicos, envolver mais pessoas. Errar e a seguir “errar melhor”, como diz Beckett. A nossa preocupação com o envolvimento da comunidade é diária, ao ponto de promovermos outras actividades, que decorrem fora do teatro, relacionando-se directamente com as pessoas.
P – O vosso envolvimento vai para lá da apresentação de projectos e chega à criação?
R – Exacto. Nós já desenvolvemos vários projectos. E o próximo vai chamar-se “Guarda: a República” e terá um grande envolvimento dos agentes locais, dos escritores aos músicos, bailarinos e actores, de forma a criarem um espectáculo comunitário, reforçando, assim, essa ligação e fazendo com que o teatro seja uma coisa a que estas pessoas pertencem.
R – O nosso accionista principal é a Câmara Municipal da Guarda. Sem esse apoio determinante, não era possível existir este teatro municipal. Porque nós fomos abandonados – nós e outros teatros municipais – pelo Ministério da Cultura. Que criou a ideia de uma rede, mas que, olhando para a realidade, é apenas um conjunto de edifícios espalhados por todo o país. E a Câmara da Guarda é, neste particular, uma excepção, porque definiu há muito tempo que um dos vectores principais do desenvolvimento da cidade passava pela cultura. Por isso tem o TMG, uma biblioteca com um nome poderosíssimo, Eduardo Lourenço, um Centro de Estudos Ibéricos, com as universidades de Coimbra e Salamanca. Apostou na cultura como um factor de desenvolvimento.
R – Tem. Não quer dizer que este tipo de apoio esteja isento de críticas. Eu desejava que o apoio fosse ainda mais forte, mas percebo que a minha cidade não tem essa possibilidade e, por isso também, este discurso de alguma forma recorrente de que o ministério tem de olhar para estes casos em que as câmaras se empenham totalmente no desenvolvimento cultural e precisam da solidariedade do Governo, visto estarem a cumprir serviço público.
P – Estamos a falar do interior do país. Logo, também, de um problema grave de desertificação. Que papel cabe aqui às estruturas culturais?
R – Eu muitas vezes tenho um discurso profundamente político. Não estou afastado destes temas, antes pelo contrário. A desertificação é um problema grave, mas eu conheço hoje muitas pessoas que partiram há anos para Coimbra, para Lisboa, e que agora regressam à Guarda, dizendo que já há propostas e alternativas garantidas. É um pequeno contributo, mas é um contributo, como o é no caso da economia local. A Guarda tem hoje uma atractividade global, em termos de qualidade de vida, que muitas cidades grandes não têm.
P – Há também a internacionalização, já concretizada com Espanha.
R – Por um lado, o TMG pertence à Rede de Teatros de Castilla y León. Por outro lado, temos uma parceria com a Feira de Teatro de Castilla y León. Eu sou membro do júri e desempenho um papel de sugerir a inclusão de grupos portugueses que vão à feira de teatro, que é um grande festival, e depois circulam por Espanha. Mas, o principal é que nós somos parceiros da Junta de Castilla y León na área da cultura, concorrendo a programas transfronteiriços, com vários projectos aprovados e a decorrer, como o (recente) festival de blues, produções teatrais, um festival de marionetas, iniciativas de formação. E isso se, por um lado, nos enche de orgulho, por outro, caindo na tentação de ser um pouco demagógico, faz-nos pensar no facto paradoxal de termos um financiamento governamental por via de Espanha e não o termos do Governo português. E isto devia fazer pensar o Governo português na área da cultura.
R – Mesmo que tivesse sido concretizada, essa medida não atingiria o Teatro Municipal da Guarda (TMG), uma vez que se trata de uma estrutura que não é financiada pelo Ministério da Cultura. Mas, visando os criadores, indirectamente, visaria a nossa actividade. Agora, atingindo, visando os criadores, mesmo que seja apenas ao nível da insegurança criada para quem trabalha na área artística, indirectamente prejudica o TMG, como todas as restantes estruturas, uma vez que nós precisamos dos criadores e precisamos que eles tenham condições para produzirem espectáculos de grande qualidade. Em alguns casos, os criadores artísticos em Portugal apenas sobrevivem. Por outro lado, nas declarações da senhora ministra, há também algo que ainda precisa ser esclarecido: o que ficou dito foi que parte do dinheiro dirigido ao apoio à criação seria transferido para os teatros municipais, arranjando-se assim uma solução para apoiar a sua programação.
P – E essa é uma solução para o financiamento aos teatros municipais?
R – Eu preferia que isto não acontecesse assim, que não fosse necessário tirar algum dinheiro aos criadores para apoiar os teatros municipais. Julgo que, aliás, não será possível fazer isso dessa forma.
P – Esta não seria uma forma de trazer ainda mais instabilidade, mais ruído, ao tecido cultural português?
R – Eu nunca concordaria com uma solução dessa natureza. Nós estamos numa fase de grande confusão ao nível de uma suposta política cultural. Há muito ruído, há muita confusão e continua a ser necessário clarificar. Embora, neste momento, com a nomeação de João Aidos para a Direcção-Geral das Artes, tenham sido [por ele próprio] assumidas áreas fundamentais, nomea-damente no que respeita à concretização da tão falada “rede” de teatros e cineteatros.
P – O facto é que o diálogo parece, uma vez mais, não ser o ponto forte dos responsáveis pela área cultural?
R – É o que parece. Mas eu também já não acredito neste tipo de discurso. Há anos que os directores artísticos dos teatros andam a pedir a atenção do Ministério da Cultura, que não os ouve. Fala-se sempre de uma rede nacional de teatros e cineteatros.
P – Rede que continua a ser uma ficção?
R – É claramente uma ficção. Há equipamentos físicos. Não existe é nenhuma rede estruturante do país, cujos teatros ajam em conjunto, que os relacione, em que se estabeleçam cumplicidades. Isso não existe, a não ser excepcionalmente, em relações de proximidade e parcerias de algumas estruturas. Mas, ao nível do país, não existe. Ao nível de sabermos claramente qual é a rede estruturante de teatro do país, qual é o seu papel, que serviço público deve prestar, qual o caderno de encargos que é necessário cumprir para que o Estado apoie esses teatros. Nada disto existe. E era necessário, imperioso, que passasse a existir com clareza. Mas o Ministério da Cultura teria de apoiar fortemente a criação desta rede. Não esperamos, nem desejamos, que seja tutelada pelo Ministério da Cultura, mas o ministério teria um papel preponderante, motivador. E teria também o papel de viabilizar economicamente esta ideia de rede.
P – Ideia alicerçada num circuito de relações e proximidades, com espectáculos a circular, em rede, pelo país?
R – É essa a ideia de rede. Com os espectáculos, nomeadamente aqueles directamente apoiados pelo Ministério da Cultura, a fazerem uma circulação nacional. Mas o que há agora é apenas um conjunto de equipamentos, uns melhores que outros, sem regras. Não há qualquer ordenamento ao nível de território na área da cultura, cada director artístico trabalha isoladamente, numa espécie de campeonato para ver qual é o melhor teatro. No entanto, como lhe digo, há excepções.
P – Que excepções?
R – Nós próprios, no TMG, fazemos parte dessas excepções, porque colaboramos regularmente com outros teatros. Mas não há uma rede nacional e é fundamental que haja.
P – Essa é uma ideia absolutamente estruturante, não apenas na área teatral, mas ao nível da política cultural em geral. Porque os teatros municipais existem para promover numa comunidade…
R – O acesso à cultura. Há companhias de teatro e dança que trabalham e, em alguns casos, são directamente apoiadas pelo Ministério da Cultura, portanto seria normal que não se limitassem a fazer um ou dois espectáculos no seu sítio de criação, mas que pudessem circular por todo o país. A senhora ministra chama-lhe mercado. Mas a verdade é que seria de todo conveniente que várias produções pudessem alargar o seu público através desta rede de teatros. Rede que não seria apenas criada para fazer circular espectáculos, mas também para promover iniciativas de formação, para reflectir e levar à prática projectos educativos, cooperações internacionais. Depois, há uma evidência: os espectáculos ficariam todos muito mais baratos.
P – Rentabilizar o investimento cultural da melhor forma, levando-o ao maior número possível de pessoas?
R – Exactamente. Este é o ovo de Colombo, mas parece que ninguém o quer pôr de pé.
P – O que é que falta então?
R – Não sei. Eu acho que já foi demonstrado em diversas circunstâncias as vantagens de uma rede deste tipo. Eu julgo que o que impede, para lá da vontade política, que agora parece existir, é a falta de dinheiro. Porque é preciso que o Estado, através do Ministério da Cultura, invista, mas exigindo a comparticipação das câmaras municipais. Porque, do ponto de vista racional, parece estar tudo explicado. O melhor era acreditar nesta rede, a integrar cerca de 20 teatros, distribuídos pelo país, para que fossem teatros de referência. Isto sem que haja da parte do ministério qualquer vontade em a tutelar artisticamente.
P – O TMG tem sido, nos cinco anos que conta e ao que todos os indicadores dizem, uma das boas excepções?
R – Não basta eu declarar, embora eu o faça, que o TMG é um teatro de referência. Os programadores do país estão, há algum tempo, a reflectir nas chamadas boas práticas. Boas práticas que identificamos relativamente ao TMG, que presta, claramente, um serviço público – permite o acesso a actividades culturais numa cidade do interior –, tem uma programação diversificada, sem ser comercial [porque o Estado só tem a obrigação de pagar as actividades que não se pagam a si próprias], não apenas na área dos espectáculos, mas também na promoção da leitura e, principalmente, no trabalho educativo que, para nós, que não temos esse entendimento redutor, não é apenas dirigido às crianças.
P – Deve dirigir-se a outros públicos, que não os habi-tuais de uma estrutura cultural?
R – Exactamente. Aos idosos, ao público normalmente esquecido, a públicos marginalizados, afastados das dinâmicas culturais. Mas, regressando aos factores que fazem do TMG a tal referência, não podemos esquecer que tem uma equipa técnica, tem uma equipa artística, tem uma estrutura de criação. E, sobretudo, tem uma forte relação com a comunidade.
P – E essa relação com a co-munidade é fundamental?
R – É. E isso quero destacar, porque sei que muitos teatros não têm este tipo de preocupação. Ou seja, como se a cultura tivesse, de alguma forma, um valor intrínseco e toda a gente de imediato reconhecesse isso. E não é assim. O programador põe em causa diariamente as suas escolhas e tem por obrigação chegar a outros públicos, envolver mais pessoas. Errar e a seguir “errar melhor”, como diz Beckett. A nossa preocupação com o envolvimento da comunidade é diária, ao ponto de promovermos outras actividades, que decorrem fora do teatro, relacionando-se directamente com as pessoas.
P – O vosso envolvimento vai para lá da apresentação de projectos e chega à criação?
R – Exacto. Nós já desenvolvemos vários projectos. E o próximo vai chamar-se “Guarda: a República” e terá um grande envolvimento dos agentes locais, dos escritores aos músicos, bailarinos e actores, de forma a criarem um espectáculo comunitário, reforçando, assim, essa ligação e fazendo com que o teatro seja uma coisa a que estas pessoas pertencem.
P – O TMG existe com o apoio da Câmara Municipal da Guarda?
R – O nosso accionista principal é a Câmara Municipal da Guarda. Sem esse apoio determinante, não era possível existir este teatro municipal. Porque nós fomos abandonados – nós e outros teatros municipais – pelo Ministério da Cultura. Que criou a ideia de uma rede, mas que, olhando para a realidade, é apenas um conjunto de edifícios espalhados por todo o país. E a Câmara da Guarda é, neste particular, uma excepção, porque definiu há muito tempo que um dos vectores principais do desenvolvimento da cidade passava pela cultura. Por isso tem o TMG, uma biblioteca com um nome poderosíssimo, Eduardo Lourenço, um Centro de Estudos Ibéricos, com as universidades de Coimbra e Salamanca. Apostou na cultura como um factor de desenvolvimento.
P – E essa intenção tem sido concretizada?
R – Tem. Não quer dizer que este tipo de apoio esteja isento de críticas. Eu desejava que o apoio fosse ainda mais forte, mas percebo que a minha cidade não tem essa possibilidade e, por isso também, este discurso de alguma forma recorrente de que o ministério tem de olhar para estes casos em que as câmaras se empenham totalmente no desenvolvimento cultural e precisam da solidariedade do Governo, visto estarem a cumprir serviço público.
P – Estamos a falar do interior do país. Logo, também, de um problema grave de desertificação. Que papel cabe aqui às estruturas culturais?
R – Eu muitas vezes tenho um discurso profundamente político. Não estou afastado destes temas, antes pelo contrário. A desertificação é um problema grave, mas eu conheço hoje muitas pessoas que partiram há anos para Coimbra, para Lisboa, e que agora regressam à Guarda, dizendo que já há propostas e alternativas garantidas. É um pequeno contributo, mas é um contributo, como o é no caso da economia local. A Guarda tem hoje uma atractividade global, em termos de qualidade de vida, que muitas cidades grandes não têm.
P – Há também a internacionalização, já concretizada com Espanha.
R – Por um lado, o TMG pertence à Rede de Teatros de Castilla y León. Por outro lado, temos uma parceria com a Feira de Teatro de Castilla y León. Eu sou membro do júri e desempenho um papel de sugerir a inclusão de grupos portugueses que vão à feira de teatro, que é um grande festival, e depois circulam por Espanha. Mas, o principal é que nós somos parceiros da Junta de Castilla y León na área da cultura, concorrendo a programas transfronteiriços, com vários projectos aprovados e a decorrer, como o (recente) festival de blues, produções teatrais, um festival de marionetas, iniciativas de formação. E isso se, por um lado, nos enche de orgulho, por outro, caindo na tentação de ser um pouco demagógico, faz-nos pensar no facto paradoxal de termos um financiamento governamental por via de Espanha e não o termos do Governo português. E isto devia fazer pensar o Governo português na área da cultura.
1 comentário:
fala muito bem, mas nao me alega. produçoes regionais, deixa-me rir, so se forem as produçoes dos amiguinhos... tipo vens encenar uma peça na minha companhia e depois apresentas-se o espectaculo no meu teatrinho... sem esquecer q o cargo deste senhor foi por nomeaçao, trata-se de um job politico, desde sempre ligado as lides partidarias... conheço o senhor desde sempre... fala fala mas nao diz nada
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