É preciso desplante e descaramento. Sobretudo da parte da Google, a tal empresa que começou os seus dias -- e levou as suas acções aos 600 dólares -- com o mote "não farás mal". Esta "Verizon-Google Legislative Framework Proposal é uma obra prima do mundo corporativo: coloca nas mãos do congresso americano todo o tipo de ónus possível sobre a alteração radical da Internet, que passa de uma rede neutra a uma auto-estrada de velocidades e acessos diferenciados -- reservando todas as vantagens para as empresas. Ah, mas nem todas: apenas as empresas incumbentes.
Ou seja: não haverá mais igualdade de oportunidades para os inovadores de garagem ou dormitório -- a Google está apostada em garantir que, depois de si própria, não haverá mais tomba-gigantes nascidos da imaginação e vontade de jovens universitários.
A leitura da proposta é estarrecedora. Basicamente, quando ela for aprovada as redes wireless passam a ter os conteúdos que cada operador decidir vender e o consumidor e os agentes do mercado perdem poder e voz, manietados por leis que colocam nas mãos da pequena parcela de empresas que controlarem o mercado não apenas a decisão do que é ou não é conteúdo público como a capacidade de julgar quem discorde.
A analogia das auto-estradas serve muito bem para perceber o que está em jogo. A "proposta legislativa" da Google-Verizon significa o fim das vias públicas por onde circulam, em igualdade de circunstâncias, tanto os fornecedores como os consumidores, pagando um pequeno "imposto de circulação" que é baixo e igual para todos, criando uma rede de auto-estradas com portagens diferenciadas, onde circulará quem puder pagar.
Isto é o fim da Internet como a conhecemos ao longo de 40 anos.
Nota: escrevi sobre isto no sábado passado, na edição papel - Neutralidade - e aqui no Ondas, O que significa a perda da neutralidade da Internet?
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