«A auto-estima é semelhante em alguns aspectos, às promessas que alguns candidatos fazem em campanha eleitoral, por exemplo, quando prometem um centro de artes para a Covilhã, e que, por muito esforço que façamos para o vislumbrar, só damos por ele no projecto e numa rua da urbe com o mesmo nome.
De maneira que, até há uns anos atrás não existia a auto-estima, como não existia centro de artes na Covilhã. O verbo “estimar” só se utilizava no encabeçamento das cartas, como medida de cortesia para pedir dinheiro a alguém, (Estimado Sr). Se a quantidade fosse considerável, empregava-se mais a expressão (Querido amigo). De repente nasce a auto-estima e converte-se em sentimento universal, ou melhor, nasce a sua falta ou a sua escassez, já que ninguém a tem, todos a perderam, não a conheceram, ou têm-na baixa, ou seja, surge directamente em potência, porque em acto não a viu ninguém, nem a mãe que a pariu.
Ora, com o centro de artes da Covilhã, passa-se exactamente a mesma coisa. “Onde está?”, pergunta aflito o indígena, enquanto remexe nos bolsos das calças os volta do revés para comprovar se a auto-estima ou o centro de artes se encontram junto às pilosidades que sempre habitam esse recanto da vestimenta. Não, não consegue encontrar nada.
Bom, então o melhor é não perder mais tempo com minudências, à falta dela, bute prá consulta, é preciso repensar a coisa.
Na sala encontram-se já, quatro maníaco-depressivos, sete depressivos endógenos, cinco exógenos e 14 pessoas por diagnosticar. Nas escadas colocaram os utentes mais antigos, esquizofrénicos e paranóicos, que já conhecem a porteira e os vizinhos. Desde o portão até à mercearia ficaram os que tem fobias e medos variados. Ainda há outros cujas patologias apresentam tendências suicidas, foram mandados para o café a mastigar gomas, enquanto aguardam pela vez.
- Sabe Doutor, sinto uma certa opressão no baixo-ventre.
- Hum, isso quer dizer que o mínimo da sua auto-estima, está baixo.
Perguntará o caro leitor, mas que raio tem ver a auto-estima com o centro de artes ? Nada. Absolutamente nada.»
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