sexta-feira, junho 23, 2006

Correio do Leitor*

A notícia extraída do DiarioXXI deixa-me apreensivo à mentalidade que existe (e persiste) na cidade que tanto adoro.
Cada vez que existe algum caso de denúncia por parte do IPA e do IPPAR, tenta-se sistematicamente catalogar os referidos técnicos dessas instituições como os mal feitores da “evolução e progresso” que está em curso na nossa cidade e concelho.
Quanto a mim eles apenas fazem o seu trabalho, é para isso que existem e para isso que são pagos, mas o que mais me incomoda em toda esta situação é tentar escamotear a lei existente e vigente.
Se por Lei, tem que haver técnicos a acompanhar certas obras em certas zonas da cidade acho que o que deve ser feito é cumprir essa mesma Lei. Se tal fosse feito, agora o presidente da CMC não teria que vir a público tratar os referidos Institutos como os mal feitores do embargo das referidas obras.
Mas mais grave que tudo isto para mim é o facto de se estar a delapidar a História da Covilhã.
Estou-me nas tintas para o facto de se o presidente é da cor X Y ou Z ,o que me deixa realmente apreensivo é o facto de uma cidade como a Covilhã, não gostar (pelo que parece) da sua História.
Deixo a pergunta, que património de interesse existe na Covilhã?
Copiando o estilo Gato Fedorento poderíamos dizer “ah… e tal… a igreja do jardim, o pelourinho, a igreja atrás da câmara…” – eu respondo – “ E que mais …?”
Muita coisa pode completar a referida lista, mas o principal será sempre o património industrial (e anterior a esse também) que existe na Covilhã.
Digamos que a política seguida da “Covilhã Cidade Neve” tem cada vez menos adeptos, até porque neve há cada vez menos e a que há dura menos tempo (salvo os canhões maravilha da Turistrela).
A Covilhã tem (ou pelo menos devia ter) que começar a ser olhada como a “Covilhã Cidade Neve E Não Só!” Quero com isto dizer o quê? Que uma cidade como a Covilhã, situada nas faldas da Serra da Estrela, tem que se voltar para a Serra durante todo o ano e ao mesmo tempo para dentro da cidade (e concelho).

A Serra

Tanta coisa poderia ser referida, mas opto por deixar a sugestão de irem perguntar aos turistas que nesta altura do ano vêm até à Serra o porquê de o fazerem. Acho que eles, melhor que ninguém, podem justificar tal atitude. E reparem na quantidade de turistas dos países nórdicos que andam por estas paragens nesta altura do ano. Será que não há montanhas por lá? Ou será que vêm até cá para fazer umas caminhadas solitárias por esta paisagem quase virgem que existe na Serra, ou dar uma voltita de bicicleta pelos caminhos que existem na Serra ou simplesmente procuram uma paz interior que talvez encontrem aqui na Serra…
Relativamente ao Inverno e à neve acho que todos nós temos opinião formada em relação ao que se passa, visto ser tão objectivo… (podem consultar o site da Turistrela caso tenham algumas duvidas…)

A Cidade

É uma realidade evidente que a cidade não tem (mas poderia ter) algum pólo dinamizador de atracção de turistas até à nossa cidade.
Não temos nenhuma Catedral, nenhum museu de arte contemporâneo, nenhum Castelo (já tivemos), nenhumas grutas, nenhumas ruínas importantes, nem tivemos a sorte de ter por estes lados alguma aparição ou coisas do Além… mas temos outras coisas.
Temos uma cidade com uma implantação fabulosa na encosta da Serra, temos um casco histórico que é uma pena estar ainda no estado que está, temos uma gastronomia que deixa de água na boca qualquer pessoa só de ler a ementa, temos um património importantíssimo ao nível da actividade dos Lanifícios, temos tanta coisa…
Mas depois não temos nada. Porquê? Porque não temos nada disso organizado. Quem chega à Covilhã, à Praça do Município (mais vulgarmente conhecida por Pelourinho) não tem nenhum posto de informação turística. E dizem-me vocês – “Ah e tal… é ao pé do jardim…” E os turistas que respondem? Jardim… onde fica isso? E a malta cá da terrinha diz “Vai aqui por esta rua, chega ao jardim e depois é melhor perguntar ali de novo…”, mas claro, como é domingo, o posto de informação turística está fechado.
É este o turismo que temos na nossa cidade, fecha aos domingos e feriados?!?!
E quando está aberto que informação se pode lá consultar da cidade? Pelo que sei (e por experiência própria) apenas existem uns folhetos (trípticos) escassos de informação e com um mapa que dificilmente exerce a sua função.
Com isto o turista que tem para fazer na nossa cidade? Ou se perde quando tenta descobrir algo de interessante da cidade ou então vai embora tendo como destinos a Serra ou outra cidade aqui próxima.

Relativamente ao comentário à noticia apresentada o que me resta afirmar é que para uma cidade que tanto podia ter, acho incrível continuar-se com a mentalidade do “deita abaixo” da História da Covilhã.
Uma obra como a que está a ser desenvolvida na zona da Goldra, incluída num programa Polis que tem como conceito base a requalificação de zonas degradadas da cidade, acho que não teria mais que englobar no projecto que está a ser desenvolvido, todo e qualquer achado que venha a ser encontrado nesse local.
Para quem não sabe, na mesma zona está praticamente terminado o Museu dos Lanifícios e veja-se nessa recuperação o que foi feito aquando da descoberta de achados arqueológicos… Penso que era mais um ponto a favor, poder-se ir a esse parque urbano que está a ser realizado e ter a possibilidade de observar (e interpretar) a História in sito desta cidade que durante tantos anos esqueceu as suas raízes… as Ribeiras!

Resta-me apenas deixar uma última questão… há alguns anos que se anda a falar de se fazer o Museu da Covilhã, eu pergunto… que espólio se quer expor nesse museu se cada vez que pode ser descoberta alguma coisa a primeira coisa a fazer é destruir em vez de salvaguardar e investigar? Penso que o património da Covilhã pertence a todos e que a atitude demonstrada (mais que uma vez) pelo representante máximo da cidade não reflecte esse sentimento de paixão pela cidade que deveria de demonstrar…
Afinal de contas, que é que caracteriza uma Cidade se não é a sua História, a sua Cultura, a sua Sociedade e a sua Identidade?!
Na Covilhã… não sei… talvez sejam letras em néon pseudo-cosmopolita que teimam em permanecer onde não deviam… apetece-me dizer “valha-nos S. Silvestre…”


* Enviado por Cova Juliana

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