quarta-feira, março 26, 2008

Socialismo de rosto humano

Temporários

A mão-de-obra barata e sem direitos dos trabalhadores temporários ocupará cerca de um milhão de assalariados em Portugal.

São trabalhadores sem voz, porque a distância entre o trabalho precário e o desemprego é um palmo de terra dominado pelo arbítrio. Mas há quem entenda que o mal em Portugal é que ainda há pouco trabalho temporário.

Aos trabalhadores temporários não lhes bastava o carácter precário, transitório da respectiva relação laboral. Ainda por cima têm um provedor, contratado pelo patronato e que é porta-voz do partido do Governo, para lhes dizer que a transitoriedade do vínculo laboral pode ser o melhor dos mundos.

O Provedor do Trabalhador Temporário quebrou o carácter confidencioso do cargo que exerce com a maior discrição desde Julho de 2007 para dar uma entrevista ao Diário de Notícias. E o que diz o provedor? No essencial que os direitos dos trabalhadores temporários estão basicamente garantidos pelas leis do actual Governo. Quanto à legislação laboral, o provedor acha-a rígida, pouco liberal em matéria de despedimentos, entenda-se. O provedor exerce o cargo contratado pela Associação Portuguesa das Empresas do Sector Privado de Emprego (APESPE). Com vínculo está ligado à política: é o deputado, e porta-voz do PS, Vitalino Prova Canas.

O que a entrevista prova é que o rótulo “socialista” em Portugal engloba as concepções de vida e de sociedade mais distantes dos ideais de solidariedade que inspiraram as doutrinas sociais. Um socialista português de hoje pode achar curto em matéria de despedimentos o pacote laboral de Bagão Félix. Como pode não ver qualquer conflito de interesses entre representar o povo e trabalhar para o patronato do trabalho temporário...


Artigo de opinião de João Paulo Guerra no Diário Económico

Via Arrastão

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