Câmara já disponibilizou ao DCIAP documentos solicitados no âmbito do inquérito aos certificados de habilitações apresentados pelo primeiro-ministro
O presidente da Câmara da Covilhã, Carlos Pinto, diz que a publicitação de partes de um relatório da Inspecção-Geral da Administração do Território, onde são apontadas irregularidades à autarquia, poderá resultar do facto de existir naquele município documentação "preocupante" sobre o dossier de José Sócrates na Universidade Independente (UnI).
Para o autarca do PSD, foi uma "estranha coincidência" que o relatório da IGAT tenha sido revelado pelo Governo, em Maio, numa altura em que a Câmara da Covilhã era citada nos media por causa do dossier de licenciatura do primeiro-ministro.
"Há quem diga que não há bruxas. Mas por vezes elas aparecem", comentou ontem ao PÚBLICO, citando o caso do professor Fernando Charrua, alvo de um processo disciplinar por parte da Direcção Regional de Educação do Norte, por ter alegadamente insultado José Sócrates. "Isto lembra o caso Charrua e outros parecidos. O que pode significar que temos uma administração pública ao serviço de um partido", sustentou Carlos Pinto.
No passado mês de Maio, o gabinete do secretário de Estado adjunto e da Administração Local revelou o envio para o Ministério Público de partes substanciais do relatório final de uma acção inspectiva à autarquia. Poucos dias antes, a imprensa noticiara que um certificado de habilitações de Sócrates, na posse da Câmara da Covilhã, mostrava notas discrepantes relativamente ao certificado que José Sócrates dera como válido. Na sequência dessas notícias, a Procuradoria-Geral da República anunciou que iria abrir um inquérito ao caso do dossier do primeiro-ministro.
Carlos Pinto confirmou ontem que a procuradora Cândida Almeida, da Direcção Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), já requereu elementos à autarquia, no âmbito dessa investigação, e que estes já foram disponibilizados. Não quis, contudo, indicar que documentos foram esses.
Ameaças a Sócrates
As preocupações de Carlos Pinto haviam sido já verbalizadas anteontem, numa assembleia municipal. Nessa altura, o autarca lançou várias insinuações, entendidas como ameaças ao primeiro-ministro.
Num contra-ataque dirigido aos elementos do PS na autarquia, Carlos Pinto afirmou que o que era motivo de preocupação não era o conteúdo do relatório da IGAT, mas sim aquilo que poderia vir a ser revelado no âmbito do processo que envolveu Sócrates e a UnI.
Citado pela Lusa, o edil disse "temer" que a inspecção entrasse "na análise dos dossiers de funcionários da câmara, designadamente no que tem que ver com pessoas altamente colocadas". E deixou um aviso, dirigido aos socialistas: "Gostaria muito que nos pudéssemos conter, porque há relevância que quero defender, apesar de me parecer, às vezes, que alguns daqueles que são mais directamente interessados o esquecem."
No final da sessão camarária, Vítor Pereira, vereador do PS e deputado na Assembleia da República, não tinha dúvidas sobre o objectivo das declarações: "Interpreto-as como uma ameaça ao primeiro-ministro. Quem é tão corajoso, que diga o que lá tem. Que não insinue e que diga com frontalidade e coragem, de uma vez por todas, o que quer dizer", respondeu aos jornalistas.
Instado pelo PÚBLICO a esclarecer a sua intervenção, Carlos Pinto disse que está preocupado com os resultados das investigações ao dossier Sócrates, "porque há documentos discrepantes", porque tem "uma boa relação com o primeiro-ministro" e porque entende que "o arrastamento destas situações não é bom para o país".
Carlos Pinto acrescentou que fala "correntemente" com José Sócrates e que não acredita que este esteja por detrás do relatório da IGAT que compromete o seu executivo. "Não acredito que seja ele. Mas acredito que haja funcionários que sejam mais papistas do que o papa", disse.
Público
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