terça-feira, novembro 16, 2010

"Fitas, como sempre!" Serra da Estrela...por Cântaro Zangado

Numa corridinha pela colina que separa a Covilhã da Bouça, encontrei, como de costume, fitas de sinalização de plástico em vários sítios. Para as actividades dos praticantes de moto-4, dos de BTT, dos de parapente, de atletismo de montanha e até de alguns caminheiros e montanhistas essas fitas são consideradas indispensáveis*.

Estas fitas apresentam, desta vez, os logotipos Nissan, Vodafone, GeaPro e DHX Troféu 2008. As entidades designadas com estes logotipos estarão orgulhosas por se terem associado a lixo deixado na serra? É essa a imagem que querem cultivar? Elas lá saberão.

Com uma pesquisa na internet fico a saber que DXH é uma empresa que organiza o que parece ser um campeonato de BTT downhill e que GeaPro é uma empresa de actividades de ar livre. Nesta rápida pesquisa apareceu também a expressão Avalanche, designação de uma actividade de BTT organizada em colaboração com a Turistrela. A Nissan e a Vodafone dispensam apresentações.

O que incomoda nesta coisa das fitas é o facto de não ser necessário deixá-las ficar no final da actividade. Se ficam, se se transformam em lixo, é apenas por puro e simples desleixo dos organizadores. Podemos pois dizer: Vodafone, Nissan, GeaPro, DHX, Turistrela, nas vossas actividades na serra da Estrela, estão a ser desleixados. Isso é lá convosco. Mas a decisão de vos comprarmos os produtos, tal e qual como as fitas de plástico que o vosso desleixo abandona na serra, essas são connosco.


P.S. A "avalanche" deste ano merece-me ainda mais um comentário. Pelos vistos, os caminhos e picadas que existem nesta colina não foram considerados suficientemente "emocionantes", porque os organizadores abriram várias variantes, como a que se vê na imagem acima. Que isso se possa fazer no Parque Natural da Serra da Estrela, área protegida criada para preservar, entre outros valores, a paisagem, é coisa com que não concordo.

(*) Não percebo porquê: porque é que se considera inaceitável o risco de um bttista, motoqueiro ou atleta se perder quando se aceita como inerente à actividade o risco de queda, com maior probabilidade de ter consequências sérias para o praticante? A propósito desta questão é interessante comparar com a perspectiva escocesa: na Ben Nevis Race, a mais antiga corrida de atletismo de montanha do mundo, o percurso não está assinalado. Aceita-se o risco de que alguém se perca, desencorajando assim a participação de atletas impreparados. Que é como quem diz que a serra é bonita, mas não é para tótós. Ou seja, que é preciso aprender as coisas da serra para se estar à altura do que ela pode exigir de nós. Que é quase o mesmo que disse o Miguel Torga: "Somente a quem a passeia, a quem a namora duma paixão presente e esforçada, abre o coração e os tesouros. Então, numa generosidade milionária, mostra tudo". As fitas são indispensáveis? Sim, mas só para quem pretender, mesmo sem se aperceber disso, dizer as coisas erradas.

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