sexta-feira, dezembro 11, 2009

Turismo sustentável ainda longe da Serra da Estrela


Três anos após a apresentação pública do Plano Estratégico para o Turismo da Serra da Estrela (PETUR), elaborado por um grupo de investigadores da Universidade da Beira Interior (UBI), o estímulo a um turismo de montanha sustentável na região parece estar ainda longe de todas as suas potencialidades.

«Muito pouco se tem investido para criar verdadeiro valor a partir dos recursos – únicos – da Serra», desabafa o coordenador da equipa responsável pelo PETUR, Pedro Guedes de Carvalho.

Na semana do Dia Internacional das Montanhas, que se celebra em 11 de Dezembro, o cenário pode ser desanimador. «Julgo que se continua a olhar para o turismo como feiras gastronómicas. São as únicas actividades que vejo e oiço feitas pelas entidades locais», acusa Guedes de Carvalho.

Destino nacional de neve, por excelência, a Serra da Estrela continua aquém das grandes montanhas europeias, conhecidas por serem endereços de luxo no Inverno. Com recursos naturais únicos, reconhecidos como área protegida há já 30 anos, o problema principal apontado para a falta de um verdadeiro turismo sustentável na Estrela não está na falta de infra-estruturas ou acessos. A falta de consensos locais parece ser o cerne da questão, para muitos. Afinal, esta é a região protegida portuguesa mais fragmentada em municípios e juntas de freguesia.
«Não há congregação de agentes e cada município tem podido fazer aquilo que bem lhe apetece», sublinha Guedes de Carvalho.

Também o director regional do Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) para a região Centro e Alto Alentejo, Armando Carvalho, reconhece as dificuldades da realidade administrativa da região. «Para tomar uma decisão ao nível do Parque Nacional da Serra da Estrela (PNSE) é necessário um diálogo entre todas as entidades envolvidas, municípios e freguesias. É preciso não esquecer que a quase totalidade dos 88 000 hectares de área protegida pertence aos municípios de Celorico da Beira, Covilhã, Gouveia, Guarda, Manteigas e Seia», relembra o responsável do ICNB.


Optimizar uma gestão única para o
turismo da região



É necessário «mudar radicalmente a gestão do turismo na Serra da Estrela», defende Guedes de Carvalho. O responsável não vê um futuro de sustentabilidade no turismo da região enquanto os municípios não tiverem acções concertadas, em benefício próprio e em detrimento da região turística como um todo. A solução parece estar na criação de uma entidade que tenha a seu cargo a gestão integrada do turismo na Serra.

O responsável da UBI reitera que a natureza é a área de maior potencial turístico da região, «bem empacotada com um acolhimento de excelência e um repouso activo únicos». Apesar do pouco aproveitamento da Serra por parte dos municípios da região, Guedes de Carvalho elogia o trabalho de alguns hotéis e grupos económicos atentos, que estão a ter «iniciativas privadas e inteligentes».

Quanto às influências do PETUR nas decisões dos municípios, Guedes de Carvalho não possui uma avaliação directa. «Muitos aproveitaram ideias, mas não disseram que estavam no PETUR. Outros fizeram exactamente ao contrário. Outros, ainda, fizeram nada, que era o que já faziam antes», comenta.

Questionados sobre as opções estratégicas municipais para o turismo sustentável da Serra, as autarquias de Seia, Covilhã, Manteigas e Guarda não responderam em tempo útil ao AmbienteOnline.


Plano pedido por consenso,
mas que gerou polémica



O PETUR foi encomendado, em 2004, pelas dez câmaras municipais que fazem parte da Acção Integrada de Base Territorial (AIBT) da Serra da Estrela: Manteigas, Covilhã, Gouveia, Belmonte, Almeida, Celorico da Beira, Seia, Oliveira do Hospital, Fornos de Algodres e Guarda.

Após dois anos de estudo, a equipa coordenada por Guedes de Carvalho apresentou as conclusões finais às autarquias, assim como um retrato pormenorizado da realidade turística da região. O documento questionou o monopólio no turismo de montanha, concessionado pelo Estado à Turistrela, e afirmou que o futuro da Serra da Estrela está no turismo ambiental, de natureza, saúde e cultura.

Outra das recomendações do grupo de investigadores foi a recuperação dos centros históricos da Covilhã e Guarda como pólos-chave no turismo regional.

As sugestões constantes do plano foram recebidas de maneira diferente em cada autarquia, com pontos que geraram forte discórdia. «Foram dezenas de reuniões feitas com muitos agentes e imprensa. Cada um ouviu o que quis ouvir e nunca saberemos em que medida houve influência directa nas suas decisões», explica Guedes de Carvalho.

O responsável conclui que o problema de gestão é uma questão cultural. «Quem não viajou muito, ou não consegue colocar-se no papel de quem não é de cá, nunca conseguirá tratar bem da Serra como um destino turístico de luxo».

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