quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Referendo

Caso os caros mafiosos e demais covilhocos não tenham reparado, a campanha do referendo da interrupção voluntária da gravidez, vulgo aborto, começou ontem. Para que não fiquem dúvidas eu sou a favor da despenalização do aborto. Este é o tempo para derimir argumentos de um lado e do outro como é apanágio de uma sociedade democrática. Acho no entanto, que esta discussão, mais a mais quando o tema é da maior importância, não está a ser feita com a elevação e com a verdade merecida. De um lado encontramos movimentos pelo SIM que, ao que tenho visto, tentam manter o nível da discussão naquilo em que se deve manter e que é basicamente se por um lado as mulheres que praticam o aborto voluntariamente (porque é inquestionável que se pratica!) devem ou não ser presas por isso. Por outro lado, praticando-se, deve a mulher recorrer a instituição de saúde que o execute em condições de salubridade ou deve usar os serviços da parteira do vão de escada? Estas são as verdadeira perguntas que nos põem no referendo. Pelo lado dos partidários do Não, estes argumentos são menorizados porque ninguém tem dúvidas que são irrefutáveis. Em vez de discutir os verdadeiros assuntos deste referendo, e ao jeito da direita mais populista de que são os representantes, invertem os argumentos e fogem-lhes, discutindo antes se a lei é do PS, se não deveriam ser criadas as condições para as mulheres terem os filhos, e se a natalidade reduzida não é uma razão válida para votar Não. A resposta ao Não é NÃO. Por um lado, NÃO estão criadas as condições sociais para uma mãe contar com uma ajuda válida para, não tendo no momento da concepção condições para criar em condições o seu filho, as vir a ter aquando do nascimento ou mesmo durante a gravidez (recordemos as dificuldades que se têm em contar com um obstetra nos hospitais públicos). Quanto à natalidade, acho que seria uma medida bem mais proveitosa acabar com a televisão a cores, porque me recuso a que à custa da infelicidade de uma mulher e de uma criança, a sociedade em que vivo possa equilibrar a sua pirâmide demográfica.


O que está aqui em causa é saber se eu posso decidir por alguém que esse alguém tem condições para criar um filho, se tem que, aos 14 ou 15 anos, abandonar a escola para criar um filho apenas porque teve um deslize e não pode confidenciar à mãe que teve sexo com o namorado. O que está aqui em causa é se queremos manter a exclusividade da prática do aborto com condições para aquelas bemzocas que engravidaram e o filho até vai ter uma cor diferente da do marido e coincidente com a do motorista. Para esses Espanha está mesmo aqui e 700 Euros até não são nada.

Por fim, os partidários do Não têm um argumento, porventura aquele a que sou realmente permeável por formação pessoal – o argumento da vida humana. Para esse argumento acho que não há contraponto e pouco me interessa se às dez semanas o feto já tem ou não coração, se já tem ou não sistema nervoso e se sente ou não dor. É uma vida ou o principio desta! Colocado no prato da balança continuo a ser partidário do SIM, porque entendo que a vida não é apenas o bater do coração mas o que nela optamos por fazer e as oportunidades que nos são dadas desde o nascimento. O argumento da vida não tem contraponto, mas deverá ser uma questão de princípio. Estranho por isso que sejam hoje quem o defende aqueles que defenderam uma guerra no Iraque em que milhares de civis inocentes morreram, como é o caso do laranja Marques Mendes ou do benfiquista Bagão Félix. Talvez porque às dez semanas o embrião seja rosadinho e lá os tipos são escuros, têm barba, e professam outra religião, aqueles merecem a vida e estes não. Vindo de quem vem nem este forte argumento está a ser usado com verdade, porque o que está subjacente neste referendo não é a vida é uma pretensa superioridade moral em que os partidários do Não rejeitam o aborto porque… valha-nos Deus.


Como entendo que o Máfia se tornou já um movimento cívico, voltarei a este tema nos próximos dias.
Abraço a todos os mafiosos e demais conas da mãe.
P.S. Como repararam este post foi escrito ontem. Hoje ainda espero voltar...

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