quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Barragem das Cortes é um erro que sairá caro

A Barragem das Cortes (2,2 milhões metros cúbicos) custará 40 vezes mais para armazenar cada metro cúbico de água do que a da Marateca (37 milhões metros3)

AO SABER, através do Jornal do Fundão, que a C.M. da Covilhã desencadeou o concurso para atribuir a construção da Barragem das Cortes, situada próximo da do Viriato, para reforço do abastecimento público, pela Águas da Covilhã (AdC), resolvi exteriorizar a minha opinião sobre tal decisão. Com o presente alerta, está longe de mim o propósito de contribuir, nesta altura, para um debate bloqueador do desenvolvimento desta cidade, onde sempre fui bem tratado, coincidindo com a minha actividade profissional, antes da aposentação, ao serviço do Aproveitamento Hidroagrícola da Cova da Beira, tanto mais que, a futura obra foi objecto, certamente, dos necessários estudos técnicos e económicos.

Com efeito, surpreendentemente, quando está em marcha a possível privatização de parte da Águas da Covilhã (AdC), surge a opção pelo avanço da construção da Barragem de Cortes.

Importa referir que, na minha óptica, esta solução, apesar de desconhecermos a sua importância hidroeléctrica, que será elevada, tanto mais que deverá ser associada à da Barragem do Viriato, ou recorrendo a outras bacias, afigura-se-me menos racional do que recorrer à construção da Barragem do Vale da Amoreira no Rio Zêzere, prevista para a 2.ª fase do Aproveitamento Hidro- -Agrícola da Cova da Beira (A.H.C.B). Senão vejamos:

Esta última barragem poderá armazenar 17 milhões de m3, contra os anunciados 2,2 milhões de m3 da barragem de Cortes, sem esquecermos que, naquele escalão, o Rio Zêzere tem o caudal integral médio anual de cerca de 140 milhões de m3, que seriam regularizados para produção hidroeléctrica, para além de garantir água para a AdC - Águas da Covilhã, e/ou, usando-a, para outros fins, nomeadamente para a rega de 3220 ha do regadio da Cova da Beira, na margem direita do Zêzere.

Desta forma, para além do abastecimento de água à Covilhã, poderiam recuperar-se 672 ha de solos degradados no Vale da Gaia, pela antiga exploração de estanho, afirmar os fins que presidiram à doação da Quinta da Lageosa e ajudar a fixar população no Vale do Zêzere, “urbanizando” agricolamente as baixas da Covilhã. Não nos podemos esquecer que, sem um sector tradicional dinâmico, para fornecer alimentação e mão-de-obra ao sector moderno, não há desenvolvimento económico na região, até porque o residual da emigração dos anos 60 e 70, se reflecte, presentemente, na desertificação que está à vista na população residente na Cova da Beira.

Antes de prosseguirmos convém recordar que, a Covilhã tem tido como pilares da sua importância a agricultura tradicional praticada no Vale da Ribeira do Paul (1300 ha regáveis), nas baixas do Vale Formoso-Orjais e da Covilhã e a zona Peraboa-Ferro- -Monte Serrano.

Se tivermos presente que a Barragem da Marateca (que abastece Castelo Branco) retém 37 milhões de m3 e obrigou a uma obra de 400 000 m3 de aterro, comparada com a Barragem das Cortes, que reterá 2,2 milhões de m3 e que exigirá 800 000 m3 de enrocamento, aceita-se facilmente que a solução Cortes custará 40 vezes mais para armazenar cada metro cúbico de água. Todavia, convém reter que, a mais-valia hidroeléctrica (exigirá uma empresa especializada para a sua exploração?) e a importância do abastecimento público são razões de peso.

Chegados aqui, importa referir que, a partir da pequena Barragem do Monte do Bispo, presentemente já apta a receber a água das Barragens da Meimoa e do Sabugal, poderia abastecer os parques industriais da Covilhã e do Tortosendo, a E.T.A.R., etc, com água não tratada, logo, muito barata, o que a Associação de Regantes agradecia. Isto, enquanto a solução Vale da Amoreira não se materializasse.

Em conclusão: Nesta altura, quando a C.M. da Covilhã está prestes a assumir compromissos financeiros, provavelmente através das Águas da Covilhã (AdC), a não ser que haja mecenato político, importa dar a conhecer, para que não se pense que a opção de vencer se sobrepõe à de convencer, ao enveredar-se pela solução Barragem das Cortes.

Certos de que há mais vida para além do Regadio da Cova da Beira, mas desejosos que, a confiança no futuro, se ganha na Cova da Beira.


José Vieira Lopes Courinha

In: Jornal do Fundão de 01/02/2007

Sem comentários: