Ciência Viva ensina a amar a floresta
Crianças de todas as idades são convidadas a meter as mãos na terra e a fazer experiências científicas que as ajudam a entender o mundo em que vivem e a melhor forma de o protegerem. O entusiasmo é geral em cada visita realizada ao Centro de Ciência Viva da Floresta de Proença-a-Nova, que já recebeu 28 mil visitantes em dois anos.
Tanta Beira, muito despovoamento
De quando em vez, a palavra “despovoamento” ganha forma em números que actualizam algumas agonias que vão marcando o Interior na sua consciência desta fria realidade.Mais números, mais calafrios. O Interior continua a marcha do despovoamento. A Beira Interior regista decréscimo. A Cova da Beira é quem mais resiste. O Pinhal Interior Sul tem os piores registos do país.
Lembrar os cem anos da HidroeléctriocaEm Dezembro de 2009 passam 100 anos sobre a criação da Empresa Hidroeléctrica da Serra da Estrela (EHSE) e da electricidade em Seia. A EDP fez agora uma excelente jornada de memória, homenageando os fundadores e os trabalhadores. O JF esteve presente na cerimónia.
Emília Ferreira vence Prémio António PaulouroMaria Emília Ferreira é a vencedora da III edição do Prémio Literário António Paulouro. O júri, constituído pelos Professores Arnaldo Saraiva e Antonieta Garcia, e o director do “Jornal do Fundão”, Fernando Paulouro Neves, depois de analisar os 33 trabalhos concorrentes, congratulou-se com a qualidade literária que, de um modo geral, eles revelaram.
Está a aquecer o tom das críticas mútuas de Manuel Frexes(PSD) e António Leal Salvado (PS), candidatos à Câmara Municipal do Fundão nas eleições de 11 de Outubro. Desta vez, a troca de acusações tem a ver com o financiamento e construção de lares de apoio a idosos. Manuel Frexes acusa o PS de desconforto, por a segurança social aprovar candidaturas para 14 lares. Leal Salvado responde, lembrando ao adversário PSD que em dois mandatos não conseguiu cumprir a promessa de construir um lar de idosos em Bogas de Cima. Ouvir notícia da Rádio JF.
Por: Dulce Gabriel
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Em Dezembro de 2009 passam 100 anos sobre a criação da Empresa Hidroeléctrica da Serra da Estrela (EHSE) e da electricidade em Seia. A EDP fez uma excelente jornada de memória
TAMBÉM se fez e faz luz na Serra de Estrela, a maior reserva hídrica de Portugal. Aqui se houve milagre foi da tenacidade e do sonho. Gente que percebeu horizontes de progresso, como se a Serra da Estrela fosse esse domínio espacial de lonjura infinita, onde se escuta melhor o desafio de transformar a realidade para cimentar futuro. Essa ousadia tem sempre um universo de nomes, cuja evocação produz um preito de admiração.
Nessa linha, há empresas, nascidas de projectos visionários, que fazem parte do rosto de uma região e se confundem com a história do país. Nessa galeria de singularidades cabe, por direito de história e dimensão social, a Hidroeléctrica da Serra da Estrela que, em Dezembro, assinalou cem anos de caminhada.
Foi esse tributo à memória dos que ousaram desencadear o projecto e edificar a empresa, e dos trabalhadores que, ao longo de décadas, lhe deram sustentabilidade, que a EDP quis prestar no dia 29 de Julho, no excelente cenário do Palácio da Empresa, em Seia.
O dr. Luís Rente fez a síntese destes cem anos da Hidroeléctrica da Serra da Estrela contando “a grande aventura que foi a produção e distribuição de energia eléctrica a partir da Serra da Estrela, e mais propriamente do concelho de Seia, que assumiu aspectos de verdadeiro pioneirismo e serviu de modelo a muitas outras regiões do país, acabando por se tornar no gigante económico chamado EHSE, com uma intervenção directa ao nível da produção, transporte e distribuição de energia eléctrica em cerca de 10% do território nacional”. Foi uma longa viagem em que o orador começou por descrever o caminho da invenção da electricidade, uma larga perspectiva temporal e histórica, para depois se deter na evolução das aplicações de energia eléctrica no nosso país, desde aquele 28 de Setembro de 1878 em que seis candeeiros de arco voltaico importados de Paris pela Família Real, foram instalados na esplanada da Cidadela, em Cascais, para a comemoração do aniversário do Rei D. Carlos, e, depois, no Chiado, em Lisboa. O investigador centrou-se depois na história da fundação da Empresa Hidroeléctrica (ver texto ao lado) analisando o seu crescimento desde “os tempos conturbados” até 1929, o período do Estado Novo e as transformações operadas pelo 25 de Abril.
Um dos lugares míticos, a Lagoa Comprida, merece a seguinte descrição: “Logo em 1912 se iniciam as obras da Lagoa Comprida (ideia original, recorde-se, do eng. Rodrigues Nogueira)… Foi certamente uma tarefa épica, se nos lembrarmos das condições de acessibilidade, sem estradas e quase sem caminhos por onde passassem os burricos e os carros de bois carregados com os materiais necessários à construção. A barragem, nesta fase, ficou apenas com cinco metros de elevação e perdia água por diversos locais e por cima do muro. Trazia, no entanto, um aumento exponencial da capacidade de produção energética. Década a década, viria a ser aumentada até chegar aos 28 metros”.
Uma história que acompanha todo o desenvolvimento regional (a energia para a indústria de lanifícios), e, no contexto mais geral, as circunstâncias políticas que moldaram o país. A relação arterial com o concelho de Seia – “o que corre bem à EDP, corre bem a Seia” – foi destacada pelo presidente da Câmara, Eduardo Brito, que elogiou os promotores iniciais, designadamente, António Marques da Silva, que faleceu em 1953, e destacou o facto da empresa ter na sua matriz “uma noção de serviço público”. “Esse adn da empresa está bem presente”, acrescentou Eduardo Brito, “no investimento ambiental e na parceria estratégica que desenvolve com a Câmara Municipal”. O autarca disse, a propósito, que “em Outubro deveremos inaugurar o Museu da Electricidade EDP/Câmara Municipal na Senhora do Desterro”.
“A EDP é grande, mas sabe estar perto. A EDP tem noção da sua responsabilidade social, estaremos sempre próximos dos nossos consumidores” disse, a encerrar a sessão o eng. António Martins da Costa, do Conselho de Administração e um dos responsáveis pela notável expansão da EDP no mundo, no âmbito das energias renováveis. Falou, por isso, na necessidade e urgência de “termos visões ambiciosas: a EDP tem hoje uma presença internacional consolidada, designadamente no Brasil e nos Estados Unidos; somos o terceiro maior operador de energias renováveis do mundo e nos Estados Unidos temos uma operação de grande escala”. O representante do Conselho de Administração prestou homenagem aos fundadores da Empresa Hidro-eléctrica da Serra da Estrela. “A EDP dá força à região. É um exemplo de descentralização, tem 260 pessoas a trabalhar em Seia”, sublinhou, acrescentando ser “daqui que saem os apoios a seis milhões de consumidores”. Noutro ponto, o eng. considerou: “O tempo é feito de mudanças. As sociedades mudaram, as pessoas estão preparadas para esta dinâmica. A EDP quer estar na crista da onda. A renovação do plano nacional de barragens é um caso único a nível mundial.”
A sessão do dia 29 de Julho em Seia foi uma bonita jornada em louvor da memória de um grande empreendimento.
A presença dos engenheiros João Torres, presidente do Conselho de Administração da EDP Distribuição, António Martins da Costa, do Conselho de Adiministração Executivo e João Mendes Garcia, director da Área de Rede e Clientes Mondego, além de outros quadros superiores, mostra a importância que a empresa deu ao acontecimento. Foi muito mais do que uma efeméride de circunstância, com o lastro afectivo muito expressivo. Uma jornada onde o dinamismo e a sensibilidade da dr.ª Maria Antónia Fonseca foi também determinante.
A importância económica
“A IMPORTÂNCIA económica da EHESE revelou-se não só pelo significativo número de concelhos que abasteceu mas sobretudo pelas suas ligações com a actividade industrial das áreas da sua concessão”, explicou Luís Rente. A EHSE atingiu “800 trabalhadores na construção de açudes, túneis, Covão do Meio, Lagoa Comprida (alteamento), Vale do Rossim e Lagoacho”.
À distância do tempo, pode afirmar-se que a Empresa Hidroeléctrica da Serra da Estrela “foi a primeira grande companhia eléctrica a constituir-se no interior do país”.
Os seus interesses repartiram-se por 25 concelhos.
No distrito de Castelo Branco forneceu Belmonte, Covilhã e Penamacor. No distrito da Guarda: Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Fornos de Algodres, Gouveia, Guarda, Manteigas, Pinhel, Sabugal, Seia e Trancoso.
O concelho da Covilhã, importante centro industrial, foi o seu principal cliente. A primeira concessão de exploração do sistema hídrico da Serra da Estrela, requerida por António Marques da Silva, é de 25 de Setembro de 1908.
A primeira instalada é a da Senhora do Desterro em 1909. A segunda foi a da Ponte de Jugais, inaugurada em 1923. A terceira a de Vila Cova, em 1937. A central do Sabugueiro é de 1947 e a de Nossa Senhora do Desterro II, em 1959.
Como nasceu a hidro-eléctrica da Serra da Estrela
RETROCEDAMOS um pouco aos primeiros anos do século e regressemos à nossa Serra da Estrela, quando recrudesce a procura, por parte da florescente indústria têxtil, de fontes de energia rentáveis e alternativas ao tradicional vapor. Espicaçada, porventura, pelo facto de a vizinha Gouveia ter inaugurado a sua luz eléctrica, no início de 1903, a Câmara de Seia lança um concurso, logo em Maio desse ano, para o fornecimento de iluminação eléctrica destinada a uso particular e industrial, por um período de trinta e cinco anos, dentro dos limites da vila. Garantia-se o consumo de 60 lâmpadas de incandescência no valor de 6.000 réis/ano, por cada lâmpada, com a contrapartida de o concessionário fornecer um arco voltaico a instalar em frente do edifício dos Paços do Concelho. Contudo, suprema desilusão, o concurso ficou deserto. Este e o seguinte ... e nos três anos subsequentes não se falou mais no assunto. Em Outubro de 1906, nova tentativa, com condições um pouco melhores, embora similares: a Câmara garantia o consumo de 100 lâmpadas de dezasseis velas, no valor anual de 6500 réis, estipulando-se algumas outras condições: em caso de avaria o concessionário era obrigado a garantir a iluminação a petróleo; a iluminação devia manter a sua intensidade do pôr do sol à meia-noite e metade daí até ao amanhecer; desde que daí não resultassem défices na iluminação da vila podia o concessionário transportar a electricidade para outras localidades. É neste contexto que surge um empresário têxtil de Gouveia, de seu nome António Marques da Silva, que via na utilização de energia eléctrica a possibilidade de crescimento da firma Braz e Irmão, de que se tornara sócio recentemente. Num plano que vinha sendo gizado há uns anos, uma vez que se sabe que em 1903, chamara técnicos franceses de equipamentos energéticos, com quem percorreu encostas da Serra na busca da localização ideal de uma futura central hidroeléctrica. Garantida a participação financeira de mais três associados (Guilherme Cardoso Pessoa, António Rodrigues Frade e Ribeiro Ferreira) o contrato com a Câmara é celebrado por escritura, em 5 de Dezembro de 1906, e concedido o alvará para o início das obras em Setembro de 1908, tendo sido publicado em Diário do Governo, logo em Outubro. Pelo dito contrato, a Câmara concedia o exclusivo para o fornecimento de energia destinada à iluminação púbiica, particular e aos industriais, por um período de 35 anos, portanto, até 7 de Fevereiro de 1942. Cede-se o direito à exploração das águas do Rio Alva e da Ribeira da Caniço, bem como os terrenos municipais ou baldios dos terrenos que ladeassem os açudes, as levadas e as instalações.
O concessionário obrigava-se a fornecer a energia para iluminação pública pelo preço anual de 3810 réis por cada lâmpada de 16 velas e gratuitamente dois arcos voltaicos a instalar na Praça da República. Ontem como hoje, a vida das empresas e o devir político não se representam por uma linha contínua de evolução, registando-se alguns meandros e sinuosidades determinados por muitos factores que, parecendo menores, quando concatenados, são determinantes e têm consequências significativas. Pois bem, em Outubro de 1907, a edilidade senense, presidida pelo Dr. António Augusto da Fonseca Saraiva, recebe uma proposta de um capitão do estado-maior de engenharia, chamado António Rodrigues Nogueira, residente em Lisboa, na qual solicitava a cedência do direito exclusivo de todas as águas da bacia hidrográfica da Lagoa Comprida. As negociações arrastam-se e, em Agosto de 1908, a Câmara aprova as bases de um novo contrato em que faculta, pelo prazo de cinquenta anos, os direitos que detém sobre a dita bacia hidrográfica, cedendo os terrenos necessários à construção das infra-estruturas. O empresário comprometia-se a pagar à Câmara cinco contos de réis, logo que o projecto das obras fosse efectuado, e uma renda anual de 400.000 réis. Resumindo, a Câmara assinou dois contratos: um com Marques da Silva, que exploraria as águas do Rio Alva e da Ribeira da Caniço e ficava com o exclusivo da iluminação pública e particular até Fevereiro de 1942; outro com Rodrigues Nogueira (ou uma empresa de capitais franceses que estaria por trás dele, a “Societé hydro-électrique EsireSla”), que exploraria as águas da bacia hidrográfica da Lagoa Comprida, mas só poderia fornecer a energia a partir de 1942 até Setembro de 1958. Perante estes factos parece que só uma solução era viável. No dizer do eng° Vilaça Nogueira, filho do segundo concessionário (António Rodrigues Nogueira), e cito o Dr. Quelhas Bigotte, “só o entendimento e uma fusão seria profícua para a região e, dando-se as mãos, fizeram os primeiros passos para uma grande obra”. Assim, em escritura celebrada em Gouveia, no dia 7 de Julho de 1909, constitui-se uma nova sociedade, em que participavam António Marques da Silva, António Rodrigues Frade, Guilherme Cardoso Pessoa (sócios anteriores da indústria de lanifícios) com António Rodrigues Nogueira constituindo a Empresa Hidroeléctrica da Serra da Estrela.
[Extracto da conferência do dr. Luís Rente]
Fernando Paulouro Neves
jornaldofundao.pt
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