sexta-feira, dezembro 15, 2006

Devem proteger-se as áreas protegidas?

Comunicado da Plataforma Des. Sust. Serra da Estrela
A Serra da Estrela é uma região natural de montanha única em Portugal, especialmente rica nas paisagens, na biodiversidade e na cultura das suas populações. A existência de uma área Protegida com esta importância e dimensão deve ser encarada como uma mais-valia e, como tal, devem ser muito cuidadosamente encaradas e acompanhadas quaisquer intervenhamos e actividades no seu interior. Essa tarefa cabe, em grande medida, aos serviços do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE).

Em pleno coração do Parque Natural encontra-se a estancia de esqui gerida pela Turistrela SA, empresa detentora, há dezenas de anos, da concessão exclusiva do turismo na Serra da Estrela.
É discutível que numa área protegida como esta tenha sido autorizada a construção do arquitectonicamente aberrante bunker central da estancia de esqui; que os edifícios da Torre e da estancia possam funcionar sem um efectivo tratamento de águas residuais; que a empresa concessionária tenha liberdade para fazer movimentos de terras com a dimensão dos que têm sido efectuados na estancia; que tenha alterado a utilização do espaço da estancia (que se destinava unicamente à prática do esqui), transformando-a durante o Verão num bike park (com mais movimentos de terras), sem para tal ter conseguido as necessárias autorizações.

Apesar da enorme liberdade com que a empresa concessionária se tem movido nesta área protegida, Artur Costa Pais (administrador da Turistrela) manifestou-se há alguns dias exasperado pela necessidade de estudos de impacto ambiental prévios a trabalhos na estância de esqui, imposta por técnicos do PNSE de acordo com a lei geral de ambiente. Dado o historial de atentados ambientais perpetrados pela Turistrela que parcialmente resumimos acima, é com muito agrado que vemos o PNSE garantir que, desta vez, tudo se faça de acordo com as regras. Mais ainda, esperamos que esta sua atitude passe a ser a norma no futuro. Consideramos que é o melhor para a paisagem e para o ambiente da Serra, ou seja, que é o melhor para todos, até para a própria Turistrela.

Jorge Patrão, presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela, juntou-se aos protestos de Artur Costa Pais, acrescentando ainda que faria queixa ao Governo dos técnicos do PNSE, conforme foi noticiado pelo Público Local Centro do dia 1 de Dezembro. Estranhamos que se acusem os técnicos responsáveis pela conservação do ambiente de pugnarem pelo cumprimento de legislação elaborada exactamente para esse fim. Mais estranhamos ainda que Jorge Patrão nunca tenha reclamado pelas actividades poluidoras da Turistrela, pelo entulho que esta empresa deixa espalhado pelos locais onde realiza trabalhos de construçao, pela publicidade em outdoors de fraca qualidade com que desfeia a paisagem serrana, pelos seus projectos de urbanização ao em sítios ainda preservados, pelos aberrantes critérios urbanísticos com que executa as suas intervenções ou por associar a imagem a Serra da Estrela a produtos televisivos de terceira categoria. Na nossa opinião, são funções da Região de Turismo a salvaguarda e promoção de um turismo verdadeiramente de qualidade; infelizmente, não a vemos à altura dessas responsabilidades.

Consideramos lamentável que se profiram declarações públicas como estas de Artur Costa Pais e de Jorge Patrão. Elas parecem ter como único objectivo pressionar os técnicos do Parque e virar contra eles a sociedade civil. É importante que Turistrela e Região de Turismo percebam que (como disse Jorge Patrão) “o turismo e o ambiente têm que andar aliados”, sim, mas que tal não se consegue desenvolvendo-se aquele em permanente e contínua agressão a este.

Guarda, 9 de Dezembro de 2006
A Plataforma pelo Desenvolvimento Sustentável da Serra da Estrela (*)
(Apartado 156-6300 Guarda; padesse@gmail.com)


(*) A PDSSE é uma organização que foi constituida no passado Verão, que integra as associações

Associação Distrital dos Agricultores da Guarda,
Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela,
Associação Desportos de Aventura Desnível,
Quercus,
Liga para a Protecção da Natureza e diversos cidadãos a título particular.


Nota: O Comunicado transcrito surge em reacção à seguinte notícia:
Kaminhos

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