sexta-feira, outubro 22, 2010

"R´etratos", por João Mineiro "Porque é que a praxe existe? porque sim!"

Todos os anos, com o começo do ano académico, assistimos ao (re)começo das tradições académicas em praticamente todas as faculdades do país. Entre estas tradições destaca-se a praxe académica.

A praxe académica enquanto conceito, nos nossos dias, surge como resposta à necessidade de integração de estudantes no novo tipo de ensino, o ensino universitário. Mas ela não surge assim. Desde a institucionalização da praxe, na Universidade de Coimbra, muita alteração se fez ao objectivo da praxe, e à sua prática real. Desde a sua proibição por D.João V - "Hey por bem e mando que todo e qualquer estudante que por obra ou palavra ofender a outro com o pretexto de novato, ainda que seja levemente, lhe sejam riscados os cursos."-, a praxe sofreu no século posterior, século XIX, uma alteração profunda caracterizada pelo aumento massivo da violência. Só a implantação da República parou a violência praxista. A praxe é recuperada, embora de uma forma diferente, no Estado Novo e novamente é abolida consensualmente a seguir ao 25 Abril, fruto de tempos em que as lutas eram outras…

A praxe, como a conhecemos hoje, é fruto do seu ressurgimento pós Abril, em particular fruto massificação praxista dos anos 70. No Porto, como em Coimbra, em Lisboa, em Évora, a praxe foi (re)implantada ou, no caso especifico de Lisboa, implantada mais seriamente. Esta (re)implantação foi acompanhada pela tomada das Associações Académicas pelas juventudes partidárias do PS e do PSD. Associações Académicas, que mesmo não sendo comissões de praxe, são importantes estruturas de base e apoio da cultura praxista. Com a massificação da praxe, enquanto meio de integração segundo as comissões de praxe, os rituais institucionalizam-se, as hierarquias ganham força, os rituais multiplicam-se de ano para a ano, e cria-se uma tradição académica de praxe. É essa a tradição com que quase todos os estudantes de primeiro ano na faculdade se deparam.

Mais que fazer uma análise histórica do que foi a praxe, interessa-me interpretá-la no hoje. Como é a praxe hoje? Como se processa? Com que objectivos? A quem serve? A praxe deve existir como meio de integração no meio universitário?

- A praxe não é livre. A maioria dos estudantes gosta da praxe e vai à praxe. Isso não a legitima por si só. O que acontece a um estudante que se declara anti-praxe? Tem o mesmo tratamento pelos colegas de curso mais velhos? É convidados para jantares de curso e outras formas de convívio estudantil? Um estudante anti-praxe é um estudante por norma excluído dos convívios de curso e das formas de socialização que se fazem entre os cursos. É mal visto e por isso poucos se declaram anti-praxe, por medo de represálias académicas.

- A praxe é hierárquica. A praxe onde ela está mais fortemente implantada, e destaco muito especificamente a Universidade da Beira Interior, é uma praxe com uma hierarquia muito forte e rígida. O que é que legitima a autoridade hierárquica? O número de matrículas. Para ser mais específico e falar com os termos correctos, quanto mais cadeiras os estudantes deixam para trás e mais acumulação de matrículas têm, mais poder têm na praxe. Na gíria: quanto mais burro mais poderoso! A praxe aproveita-se de uma falsa hierarquica – falsa porque apenas existe dentro dos códigos de praxe -, e a pretexto dessa hierarquia hipótetica, legitima actos de violências, humilhação e subjugação.

- A praxe é violenta fisicamente e psicologicamente. A melhor realidade para descrever é a que observamos. E quanto saímos à rua e damos de cara com a praxe, assistimos à realidade concreta. Os veteranos, grão-mestres, doutores, bispos, e todos esses conceitos praxistas, aplicam sobre os caloiros – ai sim, o conceito é geral -, torturas psicológicas, muitas vezes físicas, que se aproveitam de estigmas e preconceitos pré concebidos para humilhar e subjugar, entre berros, ofensas, ataques pessoais e muitas outras dissimulações absurdas. As praxes aproveitam-se das fragilidades pessoais. Em Castelo Branco há caloiros a dar linguados a porcos (porcos não estou a falar de alguns praxistas mas do animal mesmo), na Covilhã caloiros simulam orgasmos (mesmo que seja sem contacto algum). Em Lisboa caloiros rebolam em lama. No Porto simula-se sexo com uma árvore e fecham-se estudantes em fábricas durante todo o dia. Em Coimbra estudantes (quer dizer…, caloiros) que saiam à rua a partir de determinada hora e sejam apanhados cortam-lhe o cabelo. E já para não falar dos exemplos clássicos de uma rapariga que foi violada, ou outra que ficou durante um dia cheia de bosta de vaca ao sol… Os exemplos são tanto!!!

- A praxe ilusória. É obvio que cria uma dinâmica grupal entre os caloiros importante para o resto dos anos. Mas, mais uma vez, isso não serve como legitimação. A praxe esconde um dado muito importante: é possível criar dinâmicas grupais entre cursos que não se baseiem em praxes. Aliás, há exemplos concretos: visitas à universidade promovidas pelos núcleos de curso, jantares alargadores de cursos, jogos, tertúlias, chill-out sessions, noites de copos, acções culturais, enfim há todo um campo vasto de ideias por explorar. E a isso os membros das comissões de praxe nunca responderam nem nunca quiserem responder.

- A praxe é machista. Em inúmeras praxes existe uma submissão da mulher perante o homem. Seja ao nível da submissão sexual, seja a exploração da opressão machista, seja às praxes em que o objectivo é a mulher dançar para um veterano, ou um caloiro simular uma conversa de “engate” a uma caloira, ou os desfiles de caloiras com pouca roupa em discotecas e bares.

- A praxe é brutalmente homofóbica. Em quase todas as canções e hinos de praxe se exorta a opressão homofóbica. Em todas as letras das músicas de curso são metidas palavras e expressões como gay, paneleiro, maricas, levar no cú, ou outras insinuações rascas que escondem um preconceito brutal, que é altamente opressor para com homossexuais e degradante, ainda por cima dito por pessoas adultas a estudar no ensino superior!

- A praxe não é democrática. Aos caloiros os dados são impostos e não discutidos. A ninguém é perguntado “olha queres fazer esta praxe?”, “caloiro, tem alguma objecção a olhar para o chão quando fala com estudantes com mais matriculas?” ou qualquer outra pergunta deste género. O caloiro faz, simplesmente porque sim, sem justificação e nem tem o direito de perguntar nada. São “regras” dizem eles.

Por todas estes argumentos e dezenas de outros que não descrevo, e por toda a realidade que vejo como estudante em Lisboa, que conheço por relatos de amigos em Coimbra, que conheço por relatos de amigos no Porto, que conheço por relatos de amigos em Braga, que conheço por relato de amigos em Évora, que conheço concretamente na cidade da Covilhã, que a minha rejeição à praxe é absoluta. O que a realidade concreta me mostra é que a praxe é uma forma medieval de opressão e de submissão pré laboral, de aproveitamento de preconceitos e de fraquezas pessoais, de exploração de fragilidades e de diferenças entre as pessoas, e de subjugação não-livre à vontade de alguém que não tem autoridade nenhuma. Numa Universidade livre a praxe não tem de existir.

Eu rejeito a praxe numa frase: porque é que a praxe existe? Porque sim!


Saudações.

João Nuno Mineiro




18 comentários:

Ex-caloiro e veterano disse...

Engana-se, caro João.

Num mundo cinzento, ensombrado pela crise e por todos os males que varrem este país, a praxe vem dar um pouco de cor aos dias dos caloiros, veteranos e de todos quantos os rodeiam. Eu fui caloiro e dava tudo para o voltar a ser. Vivi, sem dúvida nenhuma, alguns dos melhores momentos da minha vida nessa época.

Quem, de entre que saíram na última quarta-feira às ruas da Covilhã para ver a Latada e a animação e vida que esse evento traz à cidade, poderá dizer que a praxe é tudo isso de mau que enumerou na sua crónica? A Latada é o fruto da praxe, uma mescla de cores e de juventude em euforia (com alguns excessos pelo meio, é certo) que contagia de alegria todos os locais por onde passa.

Claro que há praxes mal feitas, como há maus jogadores de futebol, ou maus profissionais de saúde que custam a vida dos seus pacientes. Os exemplos maus existem em todos os ramos, não se queira é mostrar a parte e fazê-la passar pelo todo.

A praxe bem feita é integradora e criadora de imensos laços de amizade. Eu já fui caloiro há 12 anos e continuo a ter como meus amigos muitos dos que me praxaram e dos que fizeram parte da minha turma de caloiros!

Eu digo SIM à praxe, por todas e mais algumas razões!

Ricardo Gomes disse...

Opiniões são opiniões... Tenho muita pena que vejas a praxe dessa maneira, mas aceito a tua visão e dou,te os parabéns pelo teu grande poder de crítica que tens! ;)

Lara disse...

Concordo que a praxe em vertentes de humilhação e violência é uma prática sem qualquer tipo de integração ou contexto académico, atrevo-me a dizer que é um crime. Fiz parte da Comissão de Praxe da Real Academia da cidade da Guarda e da mesma forma atrevo-me a solicitar relatos dos estudantes do I.P.G onde obviamente também fui caloira...

Lara disse...

...as semanas do caloiro na decorrem ao longo de mais ou menos uma semana e todos os dias têm uma práctica/tema associado maioritariamente organizado pela Comissão de Praxe e Real Conselho de Veteranos. Num dos dias realiza-se o típico raly tascas: os caloiros formam equipas que percorrem as tasquinhas tradicionais da Guarda; num outro dia realizam-se jogos tradicionais da região com as mesmas equipas de caloiros; há também o dia do auditório: faz-se uma espécie de encenações ensaiadas ao longo das semanas anteriores em conjunto com os caloiros; e por fim o tão esperado batismo: os caloiros recebem o batismo dos respectivos padrinhos com água somente. Todas estas práticas promovem não só a inclusão dos novos estudantes no ambiente académico como permite o convívio com os outros elementos da academia. Como vês a praxe não é esse monstro que generalizas se a souberem praticar!

Rute disse...

Não tenho pena daquilo que fazem aos caloiros nas praxes, tenho pena, isso sim, da falta de personalidade que estes têm. Só se sujeitam a humilhações porque querem. Infelizmente é triste ver que a grande maioria dos jovens de hoje em dia acha fantástico todo este ritual nojento. E conheço em Coimbra, onde estudo, vários caloiros que não são a favor da praxe mas têm medo daquela cambada de otários que em vez de integrar a estudantada vem de lá aos berros com ofensas e ameaças: ''Se não vais à praxe arranjas problemas, não fazes amigos e não trajas, és excluído de Coimbra e da sua tradição,nem aos jantares tens direito a ir.'' Há gente que só vai à praxe por obrigação e medo, e há também, aqueles que, gostam mesmo de ser maltratados, mas isso já remete para a vertente do masoquismo, já é outra história.

AndréS disse...

Antes demais, Parabéns pela coragem e negação a uma sociedade (ou pelo menos parte dela) que se julga ser mais do que aquilo que é.

Sem dúvida alguma que identifico toda a tua crónica como uma verdade, seja absoluta ou parte integrante dela. As más condutas académicas, entre elas os códigos de praxe limitados, assim como a falta de controlo e rigor dos mesmos, o falta de gestão de praxe pelos meios associativos académicos, etc., vêm boicotar um sentido lato da praxe académica, que como alguém aqui comentou, têm todo um outro sentido. Sentido esse que poderia ser todo ele conduzido de uma forma divertida, interactiva e pedagógica (mesmo nocturna), de forma a que ambas as partes, caloiros e não caloiros ganhassem.

Mas a ideia afirma-se ao contrário e os caloiros que se afirmam e passam a ser os mais "fixes" (mais sociávies), ou são os que fazem rir pelo ridículo, ou são os potenciam um futuro idêntico a quem os praxa . Fala-se em praxe integradora (e até em crise ??) mas descura-se toda a sua essência sócio-económica assim assim como sócio-afectiva, ou até sócio-cultural. Ora vejamos, as "amizades" potenciam-se onde?nas festas, nos jantares, nas saídas à noite, onde os caloiros "descuram" as "ordens" dos mestres e afins e todos bêbedos se riem e começam a dita . Portanto um caloiro que não tenham uma situação económica facilitada, que limite a sua gestão nocturna, fica descurado. Um caloiro envergonhado tende sempre a ficar "de lado" por ser um pouco introvertido, ao contrário de um que seja extrovertido ou que utilize desinibidores. Faltam-me apenas relembrar que há caloiros que têm "uma vida além-estudos".

As associações académicas, através das comissões de praxe, tentam ser organizadas, mas isso descentraliza o tal poder e o descontrolo dos "burros".

Por isso, realço a tua frase "Na gíria: quanto mais burro mais poderoso", não só pelo seu carácter cómico (que também sempre comentei) mas também porque é uma verdade que qualquer pessoa pode perceber.

Sem duvida que na maioria das vezes o poder está mesmo associado à burrice e, por isso, a menos que chore, eu rio.

"Ser caloiro é ser burro"?? de certa forma é. Porque acabam por ter parte da culpa, por não se informarem e acreditarem em tudo que lhes dizes de boca! Mas a maior parte da culpa, mais uma vez é das Assoc. académicas que não incutem, nem disponibilizam essa mesma informação e quando questionados, se desculpam que os caloiros é que não a procuraram.

Só para rematar. As festas académicas, algumas de nome bem explicito, são mesmo para integrar os caloiros? ora vejamos o caso da UBI. Nome da festa: RECEPÇÃO AO CALOIRO. Alguém recebe alguém a pagar 40€? Se a festa é para "eles" porque pagam o mesmo que os outros? Já estou a sair do tema, mas certamente que está tudo interligado :)

João Nuno, boa sorte lá para Lisboa

Abraço

''Veterana'' da Universidade de Coimbra disse...

PRAXE = FASCISMO OBSOLETO. SÓ NÃO VÊ QUEM NÃO QUER. PARECE QUE ANDAMOS A OBEDECER A UMA PIDE. ELES PAGAM TANTO 1000 EUROS DE PROPINAS COMO EU. E SE CALHAR TÊM/TIVERAM BOLSA DE ESTUDO E EU NAO!! SOU ANTI-PRAXE TOTAL. QUEM QUER INTEGRAR CONVIDA, NÃO HUMILHA. SAUDAÇÕES ACADÉMICAS

Daniela disse...

Caro João..
Isso é como tudo na vida. Se vais para um emprego tens de estar TU ciente, do que te podem, ou não fazer. Até porque tu és o interessado. è como tudo na vida, o mundo é injusto, mas, se tens o código da praxe bem lido podes co-argumentar e ninguém, ninguém mesmo, poderá negar-te a razão. Coisa que tem acontecido principalmente na Covilhã. POrtaram-se mal e exageraram , pronto, foram proibidos de praxar e de trajar..
Ou seja, só fazem o que não for permitido se o caloiro assim o deixar. Deixem-me ser um pouco mais extremista mas, quem não aguenta umas boas estaladas psicológicas, uns berritos e umas corridas na lama também não sei se aguenta o stress de uma cirurgia, o stress de uma bolsa de valores ou um patrão a gritar..
ah e digamos que por ser veterano não quer dizer que seja burro. Tive 7 anos para tirar um mestrado, e agora noutro curso speram-me mais 5 se assim for preciso.. e não sou burra.
são opções..só isso.
Eu adorei a praxe foi bom, conheci muita gente e ..se vissem o que era praxe era estarem em eng civil em Bragança, ai sim foi duro. mas sobrevivi.

João Antunes disse...

"Num mundo cinzento, ensombrado pela crise e por todos os males que varrem este país, a praxe vem dar um pouco de cor aos dias dos caloiros", a praxe é só mais um motivo para envergonhar a cultura do nosso país, a cultura estudantil, os valores estudantis e o respeito estudantil.

Nunca vais ouvir um estudante "anti-praxe" a dizer que o ambiente estudantil, as festas, as bebedeiras, as amizades que se constroem, etc. são algo de mau do Ensino Superior.

Mas vais ouvir sim, um estudante anti-praxe dizer que a humilhação, a suborninação perante os "mestres(?!)" não reflectem os valores democráticos, livres e correctos que supostamente deviam existir num país dito desenvolvido.

A praxe é realizada por estudantes que têm orgulho em se sentirem superiores a outros estudantes (os ditos caloiros). É logo no ensino que nasce a hierarquização da sociedade.

Não há caloiros, há alunos de primeiro ano que necessitam de ser integrados, respeitados, ajudados ..

Se queremos verdadeiramente frequentar uma sociedade livre e democrática a praxe tem que ser abolida.

Anónimo disse...

perguntam a alguém se deseja ser praxado?

Anónimo disse...

Concordo em absoluto com a tua visão acerca desta temática, que, por incrível que pareça, ainda é fonte geradora de diversos problemas em pleno século XXI. Mais ainda, é de louvar ver um jovem como tu pensar com esta lucidez e assumir com tanta convicção as suas ideias.

Fui estudante na Universidade da Beira Interior, onde me declarei anti-praxe desde o primeiro dia. O mais frustante foi mesmo a atitude das pessoas que olhavam para mim com pena, "coitada, é anti-praxe", "coitada, não foi baptizada", "coitada, não pode usar traje", sem nunca perceberem que nunca eu lamentei por nada disso. Sempre defendi e argumentei as minhas ideias mas, por vezes, sentia-me/sinto-me cansada de tentar explicar uma coisa que para mim é óbvia mas que, toda a gente, vá-se lá saber porquê, segue religiosamente como se de uma ideologia política se tratasse.

Parabéns pelo texto João. Mantém-te fiel aos teus príncipios.

Anónimo disse...

Engraçado.

Estes meninos têem ideias próprias. Aplaudo isso. Mérito deles. Mas quando entram em "partidos", esquecem as suas ideias próprias e começam a apoiar as ideias do "partido", do conjunto de seres e de indivíduos que neles estão, pois querem fazer parte desse mesmo "grupo", mesmo que isso vá contra as suas ideias e que as tenham que as colocar de lado. Curioso que nestes ramos, ninguém discute, e ao que parece todos têm as mesmas ideias. Parecem tal e qual aqueles palermas que têm 19 valores no fim do 12º ano em que todos têm a mesma vocação, que é nem mais nem menos, ir para medicina. Enfim. Paus mandados. Meninos de papás, de playstations. PAUS MANDADOS. É mesmo assim. Ninguém tem ideias próprias. Andam todos ao sabor do "partido" que tanto pode ser uma hoste politica como o controlo parental. Crescei miúdos.

Tenho pena daqueles que não aceitam a praxe. Espero que não se suicidem um dia que encontrarem alguém igual como eles, meninos também mimados, e que lhes barram o caminho que trilham na sua vida. Mas de uma certa forma anseio por isso.

A praxe não é mais do que um capítulo da vida, inserida num caminho que é nascer, crescer, trabalhar, viver, e morrer. Neste mundo entra o sucesso e o insucesso. Para os que rejeitam a praxe, acredito, mimados como são, que esperam pelo sucesso sentados e não admitem que um prof lhes berre nas aulas para os fazer pessoas crescidas, esses, terão muito que mamar no prozac na vida futura. Não aceitar a praxe é fugir de um capitulo da própria vida em que são ensinados e levados a serem pessoas mais crescidas. São humilhados. São mal tratados. De certa forma, chega a haver dores físicas. Mas de uma certa forma, só faz bem, pois ensina uma pessoa a lidar com os espinhos da vida futura. Além de que muitos caloiros vêm de nariz empinado e "mimadinhos" do secundário, com a ideia de que o mundo gira à volta deles. Tristes. É desses que eu gostava de humilhar, pois ninguém é mais que ninguém, em lado nenhum do mundo.

Vão-se catar, tristes da vida. Perguntem aos vossos pais,tios, padrinhos, avôs, e em como lhes foi útil a tropa, e em como lhes ajudou a serem homens. Foram brutalmente maltratados. Humilhados. Perguntem. Talvez vos deiam a resposta que não queiram ouvir.

E agora ainda há gente que se põe com merdas por causa da praxe? Quem me dera um dia no futuro ser vosso patrão, para todos os dias vos fazer ter saudades da praxe e saudades do professor mais reles que um dia se cruzou convosco.

Eu fui caloiro, fui humilhado, fui maltratado, fiz o meu curso, acabei a licenciatura, fiz o mestrado, e estou fazer doutoramento. Sobrevivi à praxe porque isso me tornou forte. Chorei. Nunca ninguém me bateu. Mas tornei-me mais forte. Hoje encaro os insucessos profissionais, quando existem, como uma oportunidade para aprender e fazer melhor, em vez de culpar os outros e de seguida começar a mamar no prozac. Serviu-me para crescer. Aqueles que praxei psicologicamente, hoje em dia dizem-me que fui um dos pais deles aqui nesta universidade, que os ajudei em todos os aspectos, que os tornei mais fortes, e ainda hoje nos encontramos para recordar esses tempos. Nunca fui obrigado a ir para a noite. Só fui quando quis. Gastei como quis, e nunca fui obrigado a pagar o que quer que fosse a ninguém.

Quem nunca quis ser praxado, declarou-se anti-praxe. Não foram praxados.

Não falem do que não sabem, seus fugitivos da praxe. Quando um dia passarem por piores dias, então, aí têm, benvindos ao mundo real seus fracos de personalidade e gente birrenta.

Anónimo disse...

continuando...

Vão-se catar, tristes da vida. Perguntem aos vossos pais,tios, padrinhos, avôs, e em como lhes foi útil a tropa, e em como lhes ajudou a serem homens. Foram brutalmente maltratados. Humilhados. Perguntem. Talvez vos deiam a resposta que não queiram ouvir.

Eu fui caloiro, fui humilhado, fui maltratado, fiz o meu curso, acabei a licenciatura, fiz o mestrado, e estou fazer doutoramento. Sobrevivi à praxe porque isso me tornou forte. Chorei. Nunca ninguém me bateu. Mas tornei-me mais forte. Hoje encaro os insucessos profissionais, quando existem, como uma oportunidade para aprender e fazer melhor, em vez de culpar os outros e de seguida começar a mamar no prozac. Serviu-me para crescer. Aqueles que praxei psicologicamente, hoje em dia dizem-me que fui um dos pais deles aqui nesta universidade, que os ajudei em todos os aspectos, que os tornei mais fortes, e ainda hoje nos encontramos para recordar esses tempos. Nunca fui obrigado a ir para a noite. Só fui quando quis. Gastei como quis, e nunca fui obrigado a pagar o que quer que fosse a ninguém.

Quem nunca quis ser praxado, declarou-se anti-praxe. Não foram praxados.

Não falem do que não sabem, seus fugitivos da praxe. Quando um dia passarem por piores dias, ou que um patrão vos moa o juízo do inicio ate ao fim do dia, então, aí, benvindos ao mundo real seus fracos de personalidade e gente birrenta.

João Antunes disse...

Respondendo ao último post ..

Não sei se quando entrou num partido ou se tornou partidarizado defendeu o que a grande maioria defendia, só para se integrar, contudo eu sou aluno do Ensino Superior, pertenço a um partido político e NUNCA MAS NUNCA renunciei aos meus ideais para seguir qualquer outro juízo de valor.

A cada parágrafo que escreve consigo rir-me um pouco mais. Incrível.Em tudo o que diz, encontra-se redondamente enganado.

Sou aluno de 1ºano (não sou caloiro) e não sou nenhum menino mimado, nem nunca me ninguém trilhou o meu futuro. Fui criado num ambiente extremamente liberal onde sempre tive que lutar por aquilo que queria e sempre recebi as consequências das minhas escolhas.
Não confunda defesa de ideais com conformismo, porque aqui, os conformista, são vocês!

Nunca, MAS NUNCA, num momento qualquer da vida de algum ser humano deve ser marcado por humilhação, por faltas de respeito, por sofrimento, por abusos, por desrespeito. Se o acha, então os seus valores enquanto Ser Humano são do mais asquerosos possíveis.

'Quem me dera um dia no futuro ser vosso patrão, para todos os dias vos fazer ter saudades da praxe e saudades do professor mais reles que um dia se cruzou convosco', não consigo compreender como consegue afirmar uma coisa destas, é simplesmente horrendo querer submeter alguém às suas vontades, apenas 'porque sim'.

Não conheço o seu seio familiar, mas se cresceu num ambiente em que os seus familiares afirmam que a tropa e o serviço militar foi algo bom para eles, então com muita pena tenho a dizer-lhe que cresceu num ambiente extremamente fascista que não respeita as liberdades individuais e os direitos fundamentais.

Para terminar, gostava só de dizer que é irónico afirmar, como o fez, que a praxe existe porque os meninos que vêm do secundário são mimados e como' ninguém é mais que ninguém' são praxados. Como o consegue fazer?! São os estudantes mais velhos que acreditam que são superiores aos novos alunos, uma vez mais não generalize uma situação, pois com isso só consegue mostrar que os juízos de valores que faz das pessoas são os mais ridículos possíveis.

Anónimo disse...

O essencial está aqui dito e bem escrito pelo João N. M.
E em alguns comentários. Apenas alguns. "Quem quer integrar convida, não humilha".
Bom texto, boa escrita João.

Amílcar A.

http://anti-praxe.blogs.sapo.pt/

Unknown disse...

O Anónimo que chama aos anti-praxe "fracos de personalidad e birrenta" vou-te dizer uma coisa: na escala da evolução tens 0 e nota-se que nunca tiveste familia, porque alguém que tem valores o primeiro que respeita é a dignidade humana e procura como defende-la se tens bullying laboral e preferes calar do que defender a tua opinião e pensar que isso te faz mais forte és simplemente um frustrado e covarde e não forte como dizes.
Nem na natureza ves actitudes tão retrógradas como a praxe, isso é de bestas! De pessoas que nao tem um minimo de respeito pela dignidade humana/

Anónimo disse...

concordo plenamente com aquilo que o bloguista escreve. Estou quase a entrar para a universidade e estou simplesmente com medo devido ao comportamento de uma data de vandalos incultos e burros que nada mais têm que fazer se não humilhar os outros.

Anónimo disse...

Eu sou um estudante de 1º ano, portanto sou aquilo a que se chama "caloiro". Passei hoje pelas praxes da minha universidade e fiz uma pergunta a um dos supostos "veteranos" que às vezes não estão para além do segundo ano. A resposta que obtive foi girtante. Parece-me impossível que um aluno mais velho encoraje faltar às aulas na primeira semana porque alegadamente "nunca ninguém chumbou a uma cadeira por não ir a uma aula de Álgebra Linear". Pois então, tiveram sorte ou então a exigência não é como eu a imaginava. Acontece que eu não tenho uma família rica que me possa pagar todos os excessos e toda a minha incompetência académica nem moro a dois passos da Universidade. Eu venho de longe e vim para o Ensino Superior com o intuito de estudar para poder ser um bom profissional e, acima de tudo, uma boa pessoa. Os meus pais fazem um esforço enorme para poder sustentar os meus estudos e eu acho que ninguém tem o direito de me ostracizar só porque me recuso a pagar jantares e almoços a toda a hora bem como bebidas à descrição. Sempre fui uma pessoa equilibrada em tudo. Sempre bebi quando achei que devia beber e não o fiz quando achei que não o devia fazer. Não vejo por isso por que razão é que não há música de praxe que não incentive este tipo de comportamentos. Dá quase a sensação que nos tentam fazer uma "lavagem cerebral". E, de facto, a avaliar pelas atitudes de alguns colegas meus, eu diria que são em grande parte bem sucedidos. Em Portugal, vida académica é sinal de tudo menos de estudo e empenho; é sinal de bebedeiras; é sinal de intolerância; é sinal de discriminação; é sinal de burrice como disse o João no post acima. Pois bem, eu decidi participar no primeiro dia de praxes, para ver como era. Não me quis declarar anti-praxe, não porque receasse perder quaisquer privilégios de poder pertencer e participar activamente da vida académica (o que não me interessa de todo) mas porque decidi dar uma oportunidade aos meus novos "colegas" de se mostrarem algo que não uma cambada de ignorantes bebedolas que não fazem mais que ficar ano atrás de ano a repetir cadeiras porque não se empenham para conseguir mais. Eu não quero trajar, eu não quero praxar; eu não quero infringir aos outros aquilo que condeno mas, e lamento desiludir o anterior comentador, isso não é indicador de falta de personalidade, é sim indicador de presença dela. Este nosso amigo que sofreu nas praxes e decidiu submeter os seus colegas ao que ele sofreu, ele sim tem os seus problemas de afirmação e como um mecanismo de compensação infringe nos outros o que a ele lhe custou sofrer. Amigos, eu participei nas praxes mas mantive a minha personalidade. Não paguei um tostão a mais do que o estritamente necessário para a verdadeira vida académica - até porque estamos em crise (aquilo que alguém usou como pretexto para as praxes) - e mantive a minha personalidade. Tive sorte? Ainda é cedo para dizer. Mas universidade deveria ser sinónimo de estudo, empenho e trabalho não de rituais pré-históricos e quase de carácter reaccionário e fascista, como alguém dizia.