Barreiras dinâmicas na protecção da estrada EN338A Estradas de Portugal (E.P.) iniciou recentemente trabalhos para a protecção do troço da EN338 compreendido entre Manteigas e a Nave de Santo António. Estes trabalhos consistem na instalação de barreiras dinâmicas constituídas por redes de arame e cabo de aço, apoiadas em tubos metálicos de grandes dimensões.
Não querendo questionar a necessidade de tais trabalhos, a ASE vem recordar que logo a seguir ao grande incêndio de 2005 chamou a atenção das entidades responsáveis para a situação de instabilidade da encosta que resultou da destruição da floresta e consequente desprotecção do solo, para o perigo de derrocadas que viessem a interromper a circulação na estrada e, sobretudo, para a necessidade de uma intervenção pronta que pudesse contribuir para consolidar os terrenos em desequilíbrio usando as técnicas da engenharia natural. Propusemos, em particular, que se usassem os troncos das árvores mortas, bem escorados nos tocos das mesmas, para criar pequenas barreiras que ajudassem a suster a erosão do solo, e que se iniciasse um esforço sério e intenso de reflorestação com espécies folhosas autóctones apropriadas aos locais afectados, contribuindo activamente para um restabelecimento das taxas de erosão naturais (práticas defendidas e prescritas em variados estudos e publicações internacionais para situações similares).
Uma tal intervenção, logo no pós-incêndio, teria contribuído para a reposição do equilíbrio da encosta, tornando menos necessária a instalação das actuais barreiras, teria evitado em grande medida a erosão da fina camada de solo fértil da encosta e teria ajudado a uma mais rápida recuperação dos ecossistemas e das paisagens afectadas - não menos importantes para o turismo numa área que pretende o reconhecimento como Maravilha Natural de Portugal e como Património da Humanidade. O incêndio de 2005 poderia ter sido assim encarado como uma oportunidade para restaurar a vegetação autóctone, base de um ecossistema saudável e equilibrado.
A actual intervenção da E.P., em contrapartida, não evita as derrocadas, apenas impede que estas atinjam a estrada, e assim ponham em causa a segurança de quem nela circula. Esta vantagem é obtida à custa da introdução de elementos artificiais visualmente estranhos à paisagem cujo enquadramento pode ser questionado, e que necessitarão de manutenção com custos sempre crescentes, à medida que os anos forem passando, não resolvendo nenhum dos problemas de fundo causadores desta situação.
Lamentamos que, passados quase cinco anos desde o incêndio de 2005, o essencial continue por fazer e que se empenhem tão intensos esforços (e meios materiais) a minimizar os efeitos da situação criada, em vez de se atacar a origem do problema. Não compreendemos que se deixe a E.P. isoladamente a tratar um problema cuja abrangência claramente ultrapassa esta entidade. E lamentamos também que a E.P., na sua esfera de acção específica, continue apenas a considerar exclusivamente a engenharia “convencional”, pura e dura, quando são cada vez mais difundidos, preferidos (havendo condições para tal, bem entendido) e bem sucedidos os métodos da engenharia natural, quer pela sua abordagem mais ecológica, quer pela forte relação custo-benefício e sustentabilidade a curto, médio e longo prazo.
Aproveitamos esta ocasião para, novamente, pedir uma intervenção mais profunda, que rapidamente torne desnecessárias as estruturas agora instaladas, para que, a par com a solidez das encostas, se recupere também a paisagem e os ecossistemas naturais do Vale, e não apenas a (relativa) segurança da circulação na estrada.
Reflorestemos!
Manteigas, 10 de Junho de 2010
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