Publicado por Leonel Vicente em Viagens Pêro Covilhã
Não estava, porém, na natureza das coisas, que se desfizesse tão prontamente uma lenda, da qual se pode bem dizer, que renascia das suas cinzas. Não cabendo já na Tartária, restava-lhe a Índia; e ali se alojava tanto mais à vontade, quanto este nome era então extremamente vago. Havia várias Índias: uma Índia menor, aquém do Indo; uma Índia maior, entre o Indo e o Ganges; uma Índia terceira, além do Ganges. Esta era uma das divisões mais usadas; mas variava muito, e a nomenclatura ainda mais. Alguns escritores abrangiam mesmo sob o nome de Índia uma parte maior ou menor da África Oriental. Nestas Índias se colocou muito tempo o Preste João, vagamente em qualquer uma delas com maior persistência na Índia terceira, além do Ganges, a mais vasta, a mais remota, a menos conhecida. […]
E agora, antes de passarmos à face africana da questão, podemos resumir brevemente as principais feições da chamada lenda. No ano de 1145, isto é em plena efervescência do espírito das Cruzadas, um bispo asiático traz a Roma a notícia da existência no extremo Oriente de um príncipe cristão, rico e poderoso. […] Em volta da notícia formou-se de certo mais tarde, e é natural que se formasse, uma lenda popular, na qual entrariam como materiais, a memória do antigo Presbyteros Johannes de Efeso, a longevidade sobrenatural atribuída a S. João Evangelista, a esperança do reino de Deus na terra, e outros elementos místicos desta espécie de criações. […]
“Viagens de Pêro da Covilhã”, Conde Ficalho, ed. Viagens Alma Azul, Outubro 2004
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