Depois de um café, meia dúzia de jogos de sueca e de conversas no Primor faz-se tempo de ir tratar de outros assuntos. Entro na Biblioteca, já pelas quase três da tarde, com uma espécie de ódio horrível por ter que estudar para um teste quando tenho tantas coisas bem mais interessantes para fazer. Subo as escadas. Primeira impressão nas capas de jornais, segunda impressão nas capas das revistas. Faz-se horas. Sento-me e olho para a convidativa sala. O atractivo cheiro dos milhares de livros ali especados à espera que alguém se digne a pegar neles, são a melhor companhia para o silêncio necessário para um estudo rápido e eficaz. Olho à volta: pessoas.
É inimaginável a quantidade de conhecimento que por minuto está a ser produzido naquela sala. Penso: tanta gente, tantos livros. Frase chave da Biblioteca da Covilhã. Quanto mais penso nos livros, nas pessoas, nos livros dentro das pessoas e nas pessoas dentro dos livros mais sinto que afinal de contas nada sei. Mas, “por saber que nada sei tudo saberei”. Peguei no livro, baixei a cabeça e pus-me a estudar. Antes disso tinha revisto a bateria do meu mp3: estava operacional e deixou que o Otis Rush e Charlie Parker abrilhantassem o meu estudo. Quando ia já em quinze páginas lidas e minimamente decoradas olho novamente para as pessoas. António Rodrigues Assunção, nos seus profundos estudos sobre os operários, está sentado junto à janela: acena.
O seu ar concentrado e enigmático faz adivinhar um terceiro volume fantástico. Ao meu lado estava um senhor que eu acho que também escreve. Parecia-me o autor dos recentes livros sobre os Sete Capotes, mas não dou garantias. Estudantes universitários invadem as mesas com dezenas de folhas, livros, canetas, garrafas de água e muito pensamento. Ao meu outro lado, uma amiga minha estuda o mesmo que eu: A segunda metade do século XX. Ao fundo está um senhor que vejo sempre que vou à Biblioteca, passa horas a ler. Só tive oportunidade de o ouvir falar uma vez numa troca de palavras sobre o segundo volume do Movimento Operário e foi brilhante. Ideias consistentes e coerentemente encaixadas, citações de poemas. Mais meia dúzia de páginas lidas e aparece um amigo meu de passagem. É, possivelmente, o jovem mais culto que conheço. Adora cinema, literatura e música. Tem posições políticas diferentes das minhas mas conseguimos discutir aberta e respeitosamente. Escreve e gosta de debater ideias. Vive no anonimato da cidade. A cidade não está suficientemente sensível para reparar na pessoalidade de mais um jovem que passa na rua, que assiste a um debate ou que simplesmente lê um livro. Para a cidade é mais um jovem que só quer copos, sexo e que não se interessa por nada… Não há aquele espírito atento de olhar e pensar que talvez haja ali alguma coisa de diferente e pessoal. É normal.
É inimaginável a quantidade de conhecimento que por minuto está a ser produzido naquela sala. Penso: tanta gente, tantos livros. Frase chave da Biblioteca da Covilhã. Quanto mais penso nos livros, nas pessoas, nos livros dentro das pessoas e nas pessoas dentro dos livros mais sinto que afinal de contas nada sei. Mas, “por saber que nada sei tudo saberei”. Peguei no livro, baixei a cabeça e pus-me a estudar. Antes disso tinha revisto a bateria do meu mp3: estava operacional e deixou que o Otis Rush e Charlie Parker abrilhantassem o meu estudo. Quando ia já em quinze páginas lidas e minimamente decoradas olho novamente para as pessoas. António Rodrigues Assunção, nos seus profundos estudos sobre os operários, está sentado junto à janela: acena.
O seu ar concentrado e enigmático faz adivinhar um terceiro volume fantástico. Ao meu lado estava um senhor que eu acho que também escreve. Parecia-me o autor dos recentes livros sobre os Sete Capotes, mas não dou garantias. Estudantes universitários invadem as mesas com dezenas de folhas, livros, canetas, garrafas de água e muito pensamento. Ao meu outro lado, uma amiga minha estuda o mesmo que eu: A segunda metade do século XX. Ao fundo está um senhor que vejo sempre que vou à Biblioteca, passa horas a ler. Só tive oportunidade de o ouvir falar uma vez numa troca de palavras sobre o segundo volume do Movimento Operário e foi brilhante. Ideias consistentes e coerentemente encaixadas, citações de poemas. Mais meia dúzia de páginas lidas e aparece um amigo meu de passagem. É, possivelmente, o jovem mais culto que conheço. Adora cinema, literatura e música. Tem posições políticas diferentes das minhas mas conseguimos discutir aberta e respeitosamente. Escreve e gosta de debater ideias. Vive no anonimato da cidade. A cidade não está suficientemente sensível para reparar na pessoalidade de mais um jovem que passa na rua, que assiste a um debate ou que simplesmente lê um livro. Para a cidade é mais um jovem que só quer copos, sexo e que não se interessa por nada… Não há aquele espírito atento de olhar e pensar que talvez haja ali alguma coisa de diferente e pessoal. É normal.
No meio destes pensamentos fechei os livros e fui buscar o Jornal de Letras, depois o Público, depois a Sábado. Foi uma tarde muito igual às outras, a única particularidade foi que decidi escrever sobre ela. As pessoas daquela Biblioteca passam (tal como o meu amigo) despercebidas. Nem sabe a cidade, tudo aquilo que todas estas pessoas podiam acrescentar. Não há formas nem meios para isso. Não à receptividade e já nem falo do interesse.
As histórias de indecisões, dúvidas, medos, auto-questionamentos, alegrias, esperanças, paixões, satisfações pessoais, realizações e descobertas que todas aquelas mesas emanam fazem-me pensar. Mas, como o Pessoa, quando penso dói-me a cabeça e apesar disso insisto em pensar. Quanto mais penso mais tenho dúvidas, mais tenho incertezas, por vezes mais tristezas. Talvez devesse ser como a ceifeira do Pessoa que não pensa e “canta como se tivesse, Mais razões p´ra cantar que a vida”.Mas não sou. (...). No meio de deambulações estéreis chegam as seis e está na hora do fecho. Sigo para casa. Amanhã é outro dia.
5 comentários:
Depois de uma bela almoçarada, fez-se tempo para ir tratar de outros assuntos..
Entro no belo WC do Serra Shopping, cubro as bordas da sanitas com papel higiénico e sento-me.
Olho à minha volta.. Paredes.. "912223334, liga-me", "Anita és uma porca.". Inspiro.. Um cheiro fecal invade-me as narinas.
Acutilo a audição.. Pingas caem nos urinóis..
Fecho os olhos por um instante.. Inspiro.. Faço força..
Borro-me todo!
Levanto-me, olho para a minha obra prima e digo: "Olha, parece mesmo um retrato à sexta do JM.."
Limpo o meu buraco negro com umas folhas do Jornal de Letras que ali andavam, saiu, lavo as mãos e vou-me embora.
Uma dúvida me assoma.. Aqueles cheiro ao sair.. Conheço-o.. Um cheiro a merdum insuportável..
Aposto que estava ali um militante de esquerda...
A promiscuidade de quem come bosta ao pequeno almoço e vem fazer comentários deste tipo.
ah ha ah ah ah, lindo!
carissimos:
"quem aos 18 não é comunista, não tem coração, quem aos 40 ainda o é, não tem razão"
O puto, é comuna, claro, é deixa-lo aprender sobre a vida e as coisas pagantes, e descobre logo a direita.
agora é aviar uma ganzas pa frente.
Ao anónimo das 1:19 PM: Ganha juízo, cresce,e aparece!
Aos outros dois: Parabéns!
Se o seu "dia" é Isto deixe-me que lhe diga que é tipo.............Rustico e velho......no minimo. De resto, não seria de esperar outra coisa.
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