Portugal apresenta-se neste Século XXI como um país virado para o turismo cultural em alternativa a conceitos de turismo de sol e praia mais ou menos competitivos. O nosso país é uma nação de grandes tradições e raízes culturais, com um património riquíssimo e reconhecido a nível internacional. Mas existirá uma verdadeira política cultural em Portugal? A resposta é simples e categórica: não!
Não, porque, apesar de termos uma ministra da Cultura artista, a mesma não tem tido a força e a coragem necessárias para operar uma mudança séria nas estruturas de uma casa, já por si, pesada, cansada e, por que não dizer, viciada. Desde o chefe de gabinete aos directores-gerais, bem como chefias e coordenações intermédias, mantêm-se quase todos nas suas funções, fazendo a triste realidade da ausência de criação assente em bases estruturadas e sólidas de uma política cultural que vise os legítimos interesses daqueles que suportam o Ministério da Cultura: nós, os contribuintes.
Aliás, lamento a falta de coragem e audácia para se criar um ministério com carga política e orçamental para ir ao encontro do País e das populações. Esse Ministério do Turismo e da Cultura teria as tutelas suficientes para não se repetirem erros de programação e promoção de actividades e bens culturais e artísticos, numa perspectiva de deixar marca nas gerações vindouras e levar o nosso conhecimento, as artes, a literatura, os museus, as tradições e o património aos visitantes e potenciais turistas de todo o mundo.
A visão pequena das realidades, e a mania de reiterarmos a política do umbigo e do estarmos orgulhosamente sós, faz com que se tenha uma existência irrisória na mudança das gerações e o seu enriquecimento no que concerne aos ditos aspectos culturais. Olhemos alguns casos concretos. Por que será que os géneros artísticos com público não têm, usualmente, apoios do Estado? Por que será que, por sectarismos inconsequentes, o que é intelectualmente e altamente financiado é, na maior parte, um rol de projectos efémeros, onde é regra encontrarmos cadeiras vazias? Por que será que os grupos, as companhias e os artistas da Madeira e dos Açores não podem concorrer aos apoios do Ministério da Cultura? Não estará o Governo actual a fazer um boicote a estes criadores, mesmo tendo uma ministra açoriana na pasta? Por que será que os programas de itinerância, apoiados pelo MC, têm critérios de selecção não compreensíveis e razoáveis na sua imparcialidade e execução? Por que será que não existe, como outrora, separação entre modelos e actores, entre profissionais e amadores? Por que será que acabaram com a carteira profissional, permitindo a qualquer curioso, pertencente a determinado lóbi da moda, ser protagonista e financiado pelo dinheiro dos portugueses? Por que será que os artistas continuam a ser desconsiderados entre os 30 e os 65 anos? Primeiro, os jovens talentos; depois, os homenageados. E onde ficam os adultos e os maduros?
É preciso ter força e coragem e dizer que a Cultura, em Portugal, precisa de um rumo, de uma mudança radical, sem hipotecar gerações com a ignorância e a distância entre criadores e público, têm de ser fomentados a imparcialidade e critérios lógicos e racionais na selecção de quem se apoia, caminhando para acabar com os subsídios e adoptando uma lógica de mercado livre e concorrencial, com iguais apoios em escalões idênticos de pares de criadores. É necessário e urgente reflectir, mas acima de tudo agir, com quem sabe, conhece, ama e sabe fazer com eficácia, diferença e para todos e em todo o território por igual. A Cultura, em Portugal, merece muito mais e melhor.
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