Não se fala, nem escreve, sobre outra coisa… “a crise está aí para ficar”, “há que fazer sacrifícios”, “o último governo deixou o país à deriva”… frases repetidas que passam de governo para governo.
Pois bem, lá vou escrever um pouquinho sobre a crise e partilhar com todos os máfias e de mais conas da mãe o entendimento que tenho das reais causas da crise.
Esta cassete, a cassete crise, mais não é que o lado b da outra, lembram-se da destruição do aparelho produtivo? Do cassete Cunhal, Carvalhas, Odete.. enfim, dos cassetes? Na comunicação social deixou de estar na moda isto das cassetes, já não se aplica aos comunas… agora as cassetes são outras.
Sendo o principal sintoma da crise (ou pelo menos aquele preocupa os nossos governantes, banqueiros, industriais…) o elevado défice público, que mais não é que um rácio défice/produto interno bruto (PIB), já se vê que a destruição do aparelho produtivo, ao contribuir para um crescimento mais lento do PIB, vai fazer com que os santos 3% sejam menos… portanto o limite é menor. Mas a destruição do aparelho produtivo, tem outras consequências, como seja o elevado aumento do desemprego, o não aproveitamento de 500 mil trabalhadores, muitos com formação superior e o pagamento de miseráveis subsídios de desemprego…
Aquilo a que hoje se assiste, com os criminosos a falar do crime e a fazer a apologia da sua continuação, como foi o caso do programa prós e contra da última segunda feira, só conduzirá a que o próximo governo venha dizer que este escondeu os verdadeiros valores do défice, que o buraco é maior, que os portugueses, não todos mas a larga maioria, têm de apertar o sinto! Que o IVA irá subir, que os direitos dos trabalhadores têm de ser nivelados por baixo…
Ao contrário do propagandeado “medida difícil” não é emagrecimento do Estado que é um processo que já vem de longa data, ao qual agora juntam a Administração Pública, e tem como resultado o agravamento das condições de vida e o atraso do país. A este propósito é bom não esquecer que o total da despesa da Administração Pública portuguesa é de 47,6% % do PIB e a média europeia (a 15)é de 48,3%.
Ao contrário do propagandeado “medida difícil” não é a da redução dos direitos dos trabalhadores, nem o congelamento de salários. Medida difícil e necessária seria o eficaz combate ao desemprego, à promoção do trabalho com garantias, só possível, no actual quadro, com um investimento de qualidade por parte do Estado.
Ao contrário do propagandeado “medida difícil” não é aumento de impostos indirectos (IVA), foi das primeiras medidas do último governo e volta a sê-lo agora. Não foi solução na altura como não o é agora. Medida difícil, necessária e moralizadora seria o combate à evasão fiscal, a redução de benefícios fiscais a empresas que declaram milhões de lucros, o travar das privatizações em curso e da rejeição às imposições comunitárias na privatização de serviços públicos.
Para a resolução dos problemas do país torna-se imprescindível romper com um modelo de crescimento que ao longo dos anos tem imposto à larga maioria da população, em especial aos trabalhadores, sacrifícios em prol de uma sustentabilidade das contas públicas sempre adiada e agravada, que caminha a par da perda, primeiro do Sector Empresarial do Estado e agora das funções sociais do Estado, causas directas para o actual estado de estagnação económica e promover, de uma vez por todas, políticas onde os anseios da maioria estejam subjacentes, onde o interesse público prevaleça sobre o privado, em que o poder económico sirva o político, com a prestação dos serviços públicos feita por entidades públicas eficazes geridas sob princípios de eficiência e interesse público. É neste contexto que a Administração Pública surge como alavanca potenciadora de desenvolvimento. Foi por isto que muitos franceses disseram, ontem, NÃO!
Sem comentários:
Enviar um comentário