sexta-feira, dezembro 22, 2006

http://geo-serradaestrela.blogspot.com/

A Serra da Estrela, que na Antiguidade teria sido designada pelo nome de “Monte Hermínio”, era até 1880 uma área quase desconhecida de Portugal. Assim, se compreende que a Sociedade de Geografia de Lisboa tenha realizado, em 1881, uma expedição científica à serra.
Pela unidade que representa no conjunto de Portugal, pela diversidade de elementos que encerra e pela riqueza natural, a Serra da Estrela é, merecidamente, a temática deste blog e uma das minhas paixões.http://geo-serradaestrela.blogspot.com/
A GLACIAÇÃO NA SERRA DA ESTRELA

O que verdadeiramente distingue a paisagem da Serra da Estrela de tantas outras serras graníticas é a profusão dos vestígios glaciares.
A glaciação na Serra da Estrela foi assinalada por Vasconcelos Pereira Cabral em 1884, mas foi sobretudo com os estudos de Lautensach e de Suzanne Daveau que ficou conhecida.
Durante o Quaternário, a serra sofre intensa glaciação, especialmente durante o período Würm, há 20 mil anos atrás. A zona central de alimentação dos glaciares coloca-se no actual planalto da Torre, emitindo 7 línguas glaciares que desciam pelos vales, através de circos glaciares, localmente conhecidos por covões. À acumulação de camadas sucessivas de neves nas partes mais elevadas, com neves permanentes, segue-se o deslizar, muito lentamente, para cotas mais baixas, modificando a paisagem, que no dizer de Suzanne Daveau, é “de tipo alpino encravada no coração de Portugal”.
O planalto corresponde à zona de alimentação de neves, desenvolvendo-se no seu bordo os glaciares, numa espécie de anfiteatro de fundo abaulado e paredes escarpadas.
Segundo Suzanne Daveau, a diversidade de línguas glaciares resultou de dois factores: a topografia pré-glaciar e as condições climáticas verificadas durante a glaciação. Distinguem-se 3 tipos de línguas glaciares: os 2 pequenos glaciares de Estrela e Alvoco, a Sul e Sudoeste; 2 línguas médias de fusão lenta do Covão do Urso e do Covão Grande, voltados para Norte e Noroeste; por fim, as 3 línguas glaciares de Loriga, Alforfa e do Zêzere que descem directamente do planalto central, passando directamente por profundos e estreitos entalhes pré-glaciares, que foram favorecidos pelas condições topográficas.

Da Nave de Santo António, aos vales glaciares de Zêzere e Alforfa, dos Cântaros Magro, Raso e Gordo, ao Espinhaço de Cão e Candeeira, das rochas polidas e aborregadas aos blocos erráticos, da profusão de lagoas de origem glaciar à paisagem nua da Torre, persistem os testemunhos da passagem da glaciação.

Actualmente, acima dos 1750 metros, pode falar-se em ambientes periglaciares e mesmo aos 1000 m de altitude, podem ocorrer casos de fragmentação de rochas devido ao gelo, através da repetição de ocorrência de temperaturas abaixo dos 0º C, no Inverno. Na serra há importantes testemunhos da crioclastia, como as cascalheiras que se encontram no vale do Zêzere, a jusante de Manteigas.


A partir da fotografia tirada pela equipa na área da Nave de Santo António, podemos compreender formas concretas correspondentes à morfologia glaciar.

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