segunda-feira, abril 17, 2006

Histoires

Têm proliferado nos média dominantes a ideia que aquilo que se passou em França é profundamente conservador, que as manifestações e posições da frente sindical, estudantil e política são reaccionárias. Que, ao contrário do Maio de 68, hoje as pessoas “não querem mudar”. Estas ideias são repetidas vezes sem conta pela grande intelectualidade portuguesa, do César das Neves ao “insuspeito” Delgado… todos, em coro, mostram a sua estupefacção perante tal atitude.

Para enganar e ludibriar todos os argumentos servem. Há que cuidar que a maioria dos portugueses continue com aquela ideia que isso de lutar não leva a lado nenhum e que, se a algum leva, isso só acontece em França, onde se protesta contra o progresso. Aliás, para que um exemplo daqueles não seja exportado para qualquer outro sítio (muito menos para aqui) deixasse claro que quem pagará será a França e a sua economia. Que a vitória do povo, na rua, contra este se virará!

Assim, em relação à primeira falácia, temos de analisar as questões concretas pelas quais se luta. Numa fase de expansão do regime democrático, luta-se pelo seu aprofundamento. Quando, como é o caso presente, assistimos ao constante esvaziar da democracia, a luta é pela salvaguarda dos direitos conquistados. O carácter progressista está naquilo que se pretende atingir e não, como estupidificantemente nos é apresentado, se se está a favor ou contra uma qualquer mudança! Se não reparem no absurdo que era chamar de reaccionário aquele que luta pela manutenção das 40 horas máximas de trabalho semanal, se, o que estivesse em causa, fosse uma alteração para as 50… o argumento de que se lutava pela manutenção das coisas seria tão válido neste último caso, como naquele que se passa em França.

A outra falácia, a de que lutar não vale a pena, é completamente desmentida pelos factos em si, quando um aspecto muito gravoso de uma má lei, já aprovada e publicada, foi alterado! Este exemplo deve levar todos aqueles que são alvo de políticas erradas a não desistir e a lutar. Em França mas também em Portugal, onde o governo de Sócrates, com uma potente máquina de propaganda, se apressa para exterminar importantes serviços públicos. Onde o mesmo governo faz alterações ao código do trabalho à revelia daquilo que havia prometido nas eleições e na oposição. Um governo que, por melhor que seja a máquina de propaganda, não consegue esconder os efeitos desastrosos da sua política! Que mente com chavões de modernice e que encobre com a eficácia o carácter das suas políticas – uma política ao serviço dos poderosos, esses sim cada vez mais ricos, contra nós, a maioria vastíssima dos portugueses que fazem contas à vida e contam cada um dos seus cêntimos…

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